domingo, 29 de agosto de 2010

AULA 9 - TEORIA CRÍTICA DAS ORGANIZAÇÕES

FAE – CENTRO UNIVERSITÁRIO
PROGRAMA DE MESTRADO INTERDISCIPLINAR EM ORGANIZAÇÕES E DESENVOLVIMENTO – PMOD

DISCIPLINA: TEORIA CRÍTICA EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS – 9º. ENCONTRO
Por Rossana Cristine Floriano Jost
I.                    Foco do estudo
Capítulo 16 – ANÁLISE CRÍTICA DAS TEORIAS E PRÁTICAS ORGANIZACIONAIS, José Henrique de Faria (org.), 2007, Atlas – A TEORIA CRÍTICA DO CONTROLE NAS ORGANIZAÇÕES PRODUTIVAS CAPITALISTAS.
II.                 Percepções da aluna
1. Introdução
É sabido que desde os tempos de Taylor, a ideologia da gestão capitalista tem por base o desenvolvimento dos mecanismos de controle do processo e das relações de trabalho, utilizada pelos gestores. Direto ou indireto, o controle é mecanismo dominante do ritual gerencial: controlar para produzir.
Entretanto, note-se que a importância não é o controle pelo controle, mas com vistas  a reproduzir o capital. Ao trabalhador não cabe escolher (p.85-86). É “produzir ou produzir”. Alguns comentários abaixo deste quadro.
MECANISMOS DE CONTROLE NA IDEOLOGIA DA GESTÃO DO CAPITAL
Tabela (p. 87-88)
OCT[1]
RH[2]
NEOCL[3]
BEHAV[4]
ESTRUT[5]
FUNC SS[6]
GF[8]
Relações de produção
X
X
X
X
X
X
X
X
Separação trab. manual e mental
X
X
X
X
X
X
X
X
Hierarquia rígida
X
X
X
X*
X
X
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X
Burocratização
X
X
X
X*
X
X
X
X
Normatização




X
X


Ênfase na estrutura




X



Gestão participativa no nível do trabalho



X


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X
Impessoalidade
X
X
X


X


Disciplina
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X
X
X
X
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X
X
Alienação
X
X
X
X
X
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X
X
Transmissão da ideologia
X
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X
X
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X
X
Mitificação
X
X
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X
X
X
X
X
Recalcamento e repressão




X
X


Coerção física






X
X
Coerção psíquica



X


X
X
Violência física
X







Violência psíquica
X
X






Obediência
X
X

X


X
X
Exploração
X
X
X
X
X
X
X
X
Censura à manifestação
X

X
X
X
X
X
X
Impedimento de conflitos
X
X
X



X
X
Manipulação dos conflitos



X
X
X


Vigilância
X
X
X
X
X
X
X
X
Determinação de resultados
X
X
X
X
X
X
X
X
Comprometimento e cumplicidade com as finalidades da organização
X
X
X
X
X
X
X
X
Identidade de interesses
X
X
X
X
X
X
X
X
Submissão total à organização
X
X
X
X
X
X
X
X
Sistema de crença e adesão

X




X
X
Contrato psicológico

X

X


X
X
Criatividade



X


X
X
Uso de táticas discursivas






X
X
Sequestro da subjetividade






X
X
Fiz um cruzamento dos mecanismos de controle com os enfoques, de forma a se ter uma visão mais geral. É interessante observar os mecanismos existentes em todos eles, “perpetuados” para “todo o sempre” , não importando a época, quais sejam: relações de produção, separação entre o trabalho manual e mental, hierarquia, burocratização, disciplina, alienação, transmissão da ideologia do capital, mitificação, exploração, vigilância, determinação de resultados, comprometimento e cumplicidade com as finalidades da organização, identidade de interesses e submissão total aos desígnios da organização.
2. Controle Econômico: Gestão Técnica e da Propriedade
Para o capitalista transformar dinheiro em capital, ele o transforma em mercadorias, que constituem o processo de trabalho. Os meios de trabalho e os objetos de trabalho compõem os meios de produção que são adquiridos pelo capitalista para valorizar seu capital. Ao vender suas mercadorias, o capitalista realiza o valor excedente, que corresponde à mais-valia, extraída da força de trabalho comprada e não paga.
O trabalhador (operador dos meios de trabalho) produz a mais-valia para o capitalista. Ele, assim, é considerado produtivo: um “agente da valorização do capital” (p.89-90).
2.1. Trabalho e cooperação
Cooperação é a forma de trabalho em que muitos trabalham planejadamente lado ao lado e conjuntamente, no mesmo processo ou em processos de produção diferentes, mas de uma forma conexa (p. 91).  A soma mecânica das forças individuais difere da potência social das forças que cooperam (forças de massas, segundo Marx).
Com a reunião de um grande número de trabalhadores ao mesmo tempo, cresce também sua resistência e, igualmente, a pressão do capital para superá-la. À direção, cabe controlá-los, condicionada pelo antagonismo entre o explorador e a matéria-prima de sua exploração. A relação dos trabalhadores passa a ser com o capital, e não entre si: deixam de pertencerem a si mesmos, tão logo inicie sua cooperação. A cooperação simples é a forma predominante onde o capital opera em grande escala (p.92).
2.2. Transformações estruturais e formas de propriedade no capitalismo contemporâneo
Os trabalhadores, no modo de produção capitalista, perdem o controle sobre o processo de trabalho. A hierarquia e o controle do processo de trabalho, bem como o surgimento de grandes corporações, trazem à tona um novo agente no processo de produção: o gerente. Entretanto, este não mais se limitou ao controle direto e novas formas de hierarquização foram introduzidas, formando um imenso aparato burocrático (p.92).
Mudanças substanciais ocorrem nas relações de propriedade [propriedade legal (propriedade de ações como parte da renda) e propriedade real (propriedade econômica e relações de posse)]: (realmente esta parte é a mais difícil, para mim)
2.2.1. Perda do controle do processo de trabalho, pelos trabalhadores: antigamente, os produtores diretos tinham controle sobre sua produção, o que dificultava ao capitalista, a elevação da taxa de exploração. Com efeito, a simplificação e a rotinização das tarefas, definidos pelas necessidades do capital, passou a tornar isso possível. Os trabalhadores passaram a ter suas funções “retaliadas”, o nível de sua qualificação diminuído, sua autonomia limitada, processo que culmina com a linha de montagem regulada pelo taylorismo e fordismo (p. 93).
2.2.2. Diferenciação das funções do capital, em termos de separação entre propriedade econômica e posse e dissociação entre propriedade legal e real: esta separação se deu, por um lado, pelo crescimento da produção, onde os capitalistas foram levados a contratar administradores para ajudar a coordenar o processo de produção; e por outro, a tendência que a propriedade econômica se desenvolva de forma mais acelerada que a da posse. Confesso que não entendi muito bem estas tais “propriedades”... (p.94).
2.2.3. Desenvolvimento de hierarquias complexas: no que se refere às relações de posse, a direção implica no controle dos meios e dos agentes de produção. Esse controle sempre existiu mas, à medida que a empresa se expande, vão surgindo novas funções de supervisão que levam a uma complexa hierarquia de controle na empresa capitalista (p.95).
3. Controle Político-Ideológico
FORMAS E PROCESSOS DE CONTROLE POLÍTICO-IDEOLÓGICOS
NAS
UNIDADES PRODUTIVAS
Despotismo
“o despotismo de fábrica é tão velho quanto o próprio capitalismo industrial. As técnicas de produção e a organização do trabalho que elas impõem sempre tiveram um duplo objetivo: tornar o trabalhão mais produtivo possível para o capitalista e, com essa finalidade, impor ao operário o rendimento máximo através da combinação dos meios de produção e das exigências de sua execução” (GORZ, 1980, p.81) (p.99).
O operário é levado a trabalhar até o limite máximo de suas forças, até a exaustão, gerando o máximo de excedente possível e visando a maximização da acumulação, da qual o produtor não tem parte alguma (p.102).
Estrutura Hierárquica e Burocrática
Estabelece um sistema capaz de dar concretude e eficiência operacional ao controle (vigiar e fiscalizar) na medida em que é disseminado em vários processos, da forma mais intensa e sutil, em todas as áreas. Seu papel é subtrair dos trabalhadores, o controle das condições e das modalidades de funcionamento das máquinas. A estrutura hierárquica compreende grupos de agentes, divididos e estruturados, controlados por chefias intermediárias, que podem até ser através de rodízio de cargos, dando uma falsa idéia de democratização destas chefias (p.102). Sabe o que me ocorreu aqui? O próprio cargo de COORDENADOR DO MESTRADO. Não seria um exemplo válido?
Disciplina
Pune e reprime, através de micropenalidades que atuam em todas as dimensões do cotidiano das organizações, com funções: (a) econômica (aumentar as forças do corpo – economia de utilidade) e (b) política (diminuir as forças do corpo – obediência e docilidade). Seu ponto central é aliar produtividade e submissão com vistas a garantir a reprodução dos objetivos da organização “sem questionamentos e sem surpresas”. Apóia-se num sistema de normas o qual contém especificações sobre as punições a serem aplicadas aos “infratores”. Funda-se, portanto, num sistema de sanções, não somente negativas, mas também positivas, a exemplo de recompensas para os “bons comportamentos”. Isso chama-se “manipulação”. A avaliação cabe às chefias imediatas, que incorporam o papel de juízes (avaliadores) e vigilantes (disciplinadores). E como o bom e velho Foucault já dizia: “há embutido na disciplina um ato de coação, que atinge os agentes submetidos; toma conta deles, torna-os disponíveis aos atos da direção e se prolonga no automatismo dos hábitos” (p.105).
Transmissão Ideológica
A transmissão da ideologia acontece, primeiramente, pelo Estado e, depois no interior da organização. O importante é reproduzir a força de trabalho e sua submissão à ordem estabelecida, à ideologia dominante. Começa na escola e é reforçado depois pelos programas de treinamento aplicados nas organizações (as universidades corporativas). Isso realmente qualifica a força de trabalho, ao mesmo tempo que reproduz a submissão da ideologia dominante, bem como as condições de manejar tais ideologias, para os próprios agentes da exploração. A grande maioria das pessoas não se dá conta disso, motivo pelo qual não a podem modificar. Aqui lembrei de um professor do MBA e sua empresa que também engloba a Educação Corporativa (http://ecorporativa.com.br/acesso.php). Lembro das calorosas palestras sobre o assunto.
A repressão assegura as condições políticas de transmissão da ideologia dominante que, ao mesmo tempo, ocupa um importante papel de assegurar a harmonia entre os aparelhos repressivo e ideológico. A ideologia, portanto, representa a relação imaginária dos indivíduos com suas condições reais de existência (p.108).
Alienação do Trabalhador
O controle do processo de trabalho pelo capital tem, como conseqüência, a alienação do trabalhador, não só em relação ao seu trabalho (posse dos produtos), como nas relações de posse de todo aparato psicossocial da gestão. O “sentido do trabalho”, para esse trabalhador, é “sem sentido”.  A alienação é compreendida a partir da racionalização, do determinismo tecnológico e da coisificação na sociedade capitalista. Trata-se de um processo pelo qual o homem se torna um estranho no mundo que seu trabalho criou. Sob o capitalismo, a alienação é fruto da especialização da organização do trabalho dentro do modo de produção capitalista. Numa sociedade dominada pelo valor de troca, está oculta a desigualdade da troca entre capital e trabalho, pois uma igualdade formal disfarça as relações de classe, como se fosse um mundo de “iguais”, ligados por livres acordos contratuais. O que é ocultado é a exploração da força de trabalho, pela divisão do mesmo: trabalho necessário e trabalho excedente. (p.114).
A essência da alienação encontra-se não na consciência do trabalhador, mas nas condições objetivas da organização capitalista da produção que transformam o trabalho do homem numa força externa estranha (p.115).
Essa “estranheza” da pessoa com o sentido de seu trabalho, sua exploração e tal, poderia também ser considerada uma estratégia de defesa inconsciente para não sofrer? Às vezes a pessoa prefere alienar-se a dar-se conta de uma realidade que dói muito...


4. O Controle Psicossocial nas Organizações Capitalistas
É interessante perceber o que acontece atrás do que é manifesto, o não-dito, o imaginário, pois nas organizações, apesar das diferenças individuais, cada sujeito é colocado no jogo do desejo e da luta do reconhecimento. Cada um só existe se for reconhecido pelo “olhar do outro” (p.119). A organização, por sua vez, coloca o indivíduo no desafio de provar sua existência e o faz estabelecendo elementos de identidade social que definem a forma como cada um lutará pelo reconhecimento. Assim, o indivíduo procurará manter as aparências, assumindo posturas e tendo um mesmo pensamento (os ”volúveis” são repelidos) (p.120).
Na “trincheira”, cada um vai procurar apanhar os outros em suas próprias armadilhas, a bem de conversar a si próprio.  A empresa propõe um ideal comum, para o qual concorrem todas as condutas individuais, sem mudanças (a repetição aprimora o controle) (p.120).
A fantasia do indivíduo será a onipotência da organização e assim vai crer em seu poder pessoal total, identificando-se com o poder total da organização. Crendo nesta identificação, o indivíduo será duplamente enganado: por sua fantasia e pela crença numa organização portadora de seu próprio ideal. Assim sendo, a empresa cerca-se de todos os aparatos para institucionalizar a relação de submissão, seja punindo, seja alimentando a fantasia da organização protetora (p.121).
É por reconhecer a existência e a importância da subjetividade, que as organizações investem no controle psicossocial, pois favorecem a mediação e os interesses que constituem sua natureza, desenvolvendo, além da racionalidade instrumental, as tramas, a dupla linguagem, a encenação, entre outros (p.125). Nesta concepção, a dissimulação é cultivada como arte suprema. A hipocrisia bem praticada é sinal de esperteza e o jogo de cena nos bastidores e no público é demonstração de “habilidade política” ou competência gerencial[9] (p.126).
5. Níveis e Formas de Controle e Instâncias de Análise
Consolidei as planilhas referentes às Instâncias, numa só, com objetivo de ampliar a visão deste “todo”. Algumas lacunas, evidentemente se criaram. Eu as evidenciei com algumas interrogações (??????).


[1] Organização Científica do trabalho
[2] Relações Humanas
[3] Neoclássico
[4] Behaviorista
[5] Estruturalista
[6] Funcionalista dos Sistemas Sociais
[7] Teoria Z
[8] Gestão Flexível
­[9] Lembrei de situações vivenciadas no passado. É muito bom ver que absurdos “institucionalizados” aqui tem sua forma verbalizada tão pontual. Na época, faltava-me palavras...