quarta-feira, 30 de março de 2011

Pressão no trabalho é a 2ª causa de licenças

Pressão no trabalho é a 2ª causa de licenças
(Contribuição da colega Luciane Araujo, para o grupo Psicodinâmica Brasil)

Estresse e depressão estão entre os problemas psicológicos principais vividos no meio corporativo

Felipe Oda - Jornal da Tarde

SÃO PAULO - Transtornos mentais atribuídos ao sofrimento no trabalho são a segunda causa de afastamentos temporários no País provocados por problemas de saúde, segundo um levantamento feito pelo Jornal da Tarde nos dados do Ministério da Previdência Social. A pressão no ambiente corporativo e a jornada sobrecarregada são alguns fatores que contribuem para esse adoecimento.


No ranking das principais doenças que afetam os trabalhadores brasileiros, com base nos dados referentes ao biênio 2008-2009, os problemas psicológicos perdem apenas para as lesões osteomusculares, como é o caso da Lesão por Esforço Repetitivo (LER). Depressão e estresse aparecem entre os distúrbios mentais mais comuns do meio corporativo.

"Além da pressão e do excesso de trabalho, dificuldade de promoção, falta de autonomia e identificação com a chefia são alguns dos motivos", lista o psiquiatra Duílio Antero de Camargo, médico do trabalho do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (IPq-HC). Diante da importância crescente do tema, Antero vai lançar, em maio, o livro Terapia Ocupacional (leia mais abaixo).

No caso da advogada Alaíde Boschilia, de 48 anos, as dificuldades no trabalho se transformaram em sinais físicos. Funcionária de um escritório de advocacia, ela conta que o corpo, além da mente, também sofreu por causa da pressão psicológica. "O ambiente era muito hostil. Meu chefe gritava e tratava todos os funcionários mal", lembra. "Comecei a vomitar todos os dias antes de ir trabalhar, perdi peso, tive furúnculos embaixo dos braços, espinhas e manchas na pele."

Alaíde suportou as agressões emocionais por oito meses, até que resolveu procurar um novo emprego. "Estava afastada havia cinco anos do mercado e precisava voltar a trabalhar, mas demorei a perceber que o próprio emprego estava me fazendo mal", diz.

Para José Atílio Bombana, coordenador do Programa de Atendimento e Estudos de Somatização, do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), os sintomas de Alaíde foram "reações de um organismo estressado". "Submetidos aos ‘estressores’, que também podem ser a violência e o trânsito, cada pessoa tem uma maneira de reagir", diz.

Observar com atenção os sinais emitidos pelos corpo quando o emocional não vai bem é uma das recomendações do médico do trabalho Gilberto Archêro Amaral, diretor da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT). "Insônia, cansaço, desinteresse e diminuição do relacionamento com outras pessoas são sinais de sofrimento provocado pelo trabalho."

Amaral ressalta, contudo, que "a todo momento o indivíduo sofre agressões", de forma que o trabalho, em algumas situações, pode ser apenas mais uma delas.

"Não podemos atribuir só ao trabalho o fato de um indivíduo adoecer. Os transtornos mentais são multifatoriais", explica o médico.

Segundo Bombana, a "estrutura interna de cada pessoa" determina a maneira como ela reage ao estresse. "Entre o trabalho e a doença, existem as características individuais que definem como será a reação do indivíduo. Algumas pessoas lidam bem com cobranças e até crescem quando são muito exigidas no trabalho", completa.

Sentir-se útil faz bem para a saúde psicológica



A pressão é comum no trabalho, afirmam os especialistas ouvidos pela reportagem. Mas qual é o limite entre as exigências da profissão e o abuso? "Cada pessoa tem um nível de tolerância", fala José Atílio Bombana, coordenador do Programa de Atendimento e Estudos de Somatização, do Departamento de Psiquiatria da Unifesp.

Gilberto Archêro Amaral, diretor da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT), diz que a pressão, em alguns casos, pode ser até benéfica. "Obriga uma resposta do organismo e do indivíduo. Para alguns, pode ser um estresse, mas para outros a pressão pode fazê-los produzir mais e melhor", afirma. "A doença também é uma resposta do organismo sobre a incapacidade de a pessoa reagir à pressão", completa Amaral.

Bombana afirma que é importante observar alguns sintomas. "Quando a pessoa passa mais tempo pensando em situações fora do trabalho em pleno expediente é um bom sinal de que alguma coisa não vai bem" (leia mais acima).

Para se manter mentalmente saudável no emprego, o especialista da Unifesp ressalta a importância de a pessoa sentir-se útil. "A produtividade é fundamental para que a cabeça da pessoa esteja bem no trabalho."

PINGUE-PONGUE


Duílio Antero de Camargo (psiquiatra e médico do trabalho do instituto de psiquiatria do HC): ‘Jeito de reagir a cobranças é individual’


Como e quando o trabalho pode prejudicar a saúde?
Depende de três fatores: biológico, social e psicológico. E da forma como cada pessoa reage a situações de estresse e cobranças. Para diagnosticar o distúrbio ocupacional é preciso comprovar o nexo causal: conhecer os motivos que estão adoecendo o indivíduo e ver se podem ser provocados pelo emprego ou por situações externas ao meio corporativo.

Quais situações do ambiente corporativo são capazes de provocar transtornos mentais nos funcionários?
Pressão, dificuldade de promoção e relacionamento com colegas de trabalho, falta de autonomia e afinidade com a chefia são algumas das principais situações estressantes. Mas tudo dependerá da maneira como cada indivíduo reage aos estímulos e aos outros fatores, social e biológico. O importante é a empresa diagnosticar o funcionário adoecido para poder ajudá-lo. É melhor afastá-lo por um período do que mantê-lo na atividade com sua capacidade produtiva comprometida.

lista PRESTE ATENÇÃO!


Entre os principais sinais dos distúrbios mentais comumente associados ao sofrimento no trabalho, tais como estresse e depressão, estão:
link Desânimo
link Insônia
link Cansaço
link Desinteresse
link Diminuição no relacionamento estabelecido com os colegas de trabalho
link Irritação
link Dores musculares sem outros motivos aparentes
link Dificuldade de concentração nas atividades exigidas pelo emprego

Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,pressao-no-trabalho-e-a-segunda-causa-de-licencas,698738,0.htm

Isto também pode ser Assédio Organizacional

Quem disse foi Pagès et al.,1987:

A internalização das exigências da organização, pelos trabalhadores, canaliza ao máximo de energia dos indivíduos em benefício da empresa, sem que seja preciso empregar a força ou a repressão, uma vez que os trabalhadores submetem-se totalmente a uma relação simbiótica, sob a dominação da organização, em nível inconsciente e que cresce, cada vez mais, à medida que os indivíduos vão perdendo sua instância crítica.

domingo, 27 de março de 2011

MARX para todos - ENCONTRO I (21.03.2011)

By prof. José Henrique de Faria. 


Capitulo I - A mercadoria

Encontro I: Capitulo I

  1. O que é um valor de uso? Que relação tem o valor de uso com as propriedades materiais da mercadoria?

A sociedade capitalista é uma imensa coleção de mercadorias e Marx conceitua mercadoria como um objeto externo, uma coisa, a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espécie. Cada coisa útil, ou seja, a mercadoria tem uma utilidade e deve ser encarada sob duplo ponto de vista, segundo qualidade e quantidade.
A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso, ou seja, se uma coisa não tiver utilidade, ela não tem valor de uso e se ela não tem valor de uso, naturalmente, não tem valor de troca. Toda a mercadoria precisa ter um valor de uso, mas nem todo valor de uso tem valor de troca (ex: recursos da natureza, ar, etc.).

Essa utilidade não paira no ar. Determinada pelas propriedades do corpo da mercadoria, ela não existe sem o corpo da mercadoria (ex: ferro, trigo, diamante, etc.) é, portanto, o valor de uso (ou um deles). Esse seu caráter não depende de se a apropriação de suas propriedades úteis custa ao homem muito ou pouco trabalho, ou seja, o conteúdo da mercadoria (suas propriedades) não depende da quantidade de trabalho colocada na mercadoria. Existe um valor intrínseco à mercadoria.

O exame dos valores de uso pressupõe sempre sua determinação quantitativa (ex: uma dúzia de relógios, três pares de sapatos, cinco calças, quatro televisões, etc.). O valor de uso realiza-se somente no momento do uso, ou seja, a mercadoria pode ter um valor de uso potencial, mas só se realiza como valor de uso quando é usada, efetivamente.

Os valores de uso constituem o conteúdo material da riqueza, qualquer que seja a forma social desta riqueza, ou seja, não importa o regime (capitalismo, feudalismo, socialismo, auto-gestão, etc.). Na sociedade a ser por nós examinada, eles constituem, ao mesmo tempo, os portadores materiais do valor de troca, ou seja, a condição de ser valor de uso é necessária para que haja o valor de troca. Sem valor de uso não tem troca.

Voltando à segunda parte da pergunta, o valor de uso tem uma relação quantitativa com as propriedades materiais da mercadoria e é intrínseco aquilo que contém a mercadoria (ex: ferro, diamante, couro, sapato, etc.). Para ter valor de troca, a mercadoria necessita ter valor de uso.

Exemplo do casaco da Arlete: quando ela comprou, ela o trocou por dinheiro (relação de equivalência) e adquiriu sobre esse casaco o direito de usá-lo, ou seja, ela adquiriu o valor de uso do objeto, embora tenha feito uma relação de troca. Ela vai usá-lo da maneira como quiser. Se o casaco não tivesse utilidade alguma, não estaria na loja. Então ele tem utilidade em potencial. Mas, para ela, o casaco teve uma característica que chamou sua atenção. Ao adquirir sobre esta mercadoria o direito de usá-la (direito sobre o valor de uso do casaco), vai usar quando quiser, sem obrigação alguma.

Este conceito é fundamental porque quando olharmos lá na frente, esse mesmo conceito no que se refere ao valor do trabalho, é um importante componente para entendermos a produção do mais-valor.

Valor de uso e valor de troca são abstrações. Ex: o pão, enquanto mercadoria na padaria, se constitui como valor de troca, pois não está lá para ser consumido pelo padeiro. De qq forma, o valor já está no objeto, independente se realizar ou não (pode-se vender o pão ou não). Se o padeiro faz o pão para seu consumo, tem valor de uso mas não tem valor de troca. Se ele fizer o pão para vender, além do valor de uso, tem valor de troca.

Se ele realiza ou não o valor de troca é uma outra discussão. A mercadoria tem valor de troca, independentemente se for vendida ou não. Ela está no mercado para ser trocada. A pessoa que adquire a mercadoria, adquire sobre ela, o valor de uso, pois a utilidade da mercadoria foi o que a fez comprá-la. O valor de uso já existe dentro do valor de troca, mas vai se realizar quando comermos o pão (antes, ele é um valor, mas não um valor realizado). A mercadoria tem dupla natureza: valor de uso (quando se consome o pão) e de troca (quando se vende o pão).

  1. “Os valores de uso formam o conteúdo material da riqueza, qualquer que seja sua forma social”. Explique.           

O valor de uso realiza-se somente no uso ou no consumo. Os valores de uso constituem o conteúdo material da riqueza, qualquer que seja sua forma social. Então, como já foi dito, o valor de uso está contido na mercadoria e forma o conteúdo material da riqueza, independente da sociedade.

  1. O que é o valor de troca? Qual é a relação entre valor de troca e valor de uso?

O valor de troca aparece de início, como a relação quantitativa, a proporção na qual valores de uso de uma espécie se trocam contra valores de uso de outra espécie, uma relação que muda constantemente no tempo e no espaço. O valor de troca parece, portanto, algo casual e puramente relativo; um valor de troca imanente, intrínseco à mercadoria, portanto uma contradição in adjecto. Observemos a coisa mais de perto.

Determinada mercadoria, 1 quarter de trigo, por exemplo, troca-se por x de graxa de sapato, ou seja, quantidade x de mercadoria A troca-se por quantidade y de mercadoria B. O trigo vai ser trocado por outras mercadorias (ou seja, não se vai trocar o sapato por sapato e sim por mercadorias diferentes).  Para se saber como essa mercadoria é trocada é preciso que haja um equivalente, caso contrário, como saber quanto vale uma coisa ou outra? Mais adiante veremos como esse equivalente vai se apresentar. É preciso haver um equivalente para podermos dizer que vamos trocar um par de sapatos por uma calça e que essa troca representa o mesmo valor.

Porém, sendo uma quantidade tal de uma mercadoria, assim como uma quantidade de outra mercadoria, como tem valores de troca permutáveis uns pelos outros ou iguais entre si. Por conseguinte, primeiro: os valores de troca vigentes da mesma mercadoria expressam algo igual. Segundo, porém: o valor de troca só pode ser o modo de expressão, a “forma de manifestação” de um conteúdo que seja distinguível dele.

Como posso trocar a mercadoria A pela mercadoria B? Por um equivalente. Só se pode expressar um valor de troca por algo que não é igual a si. Tem que ser algo distinto do valor inicial. Ele deve se expressar numa outra mercadoria, que é o seu equivalente. Assim, pode-se dizer que uma calça é igual a três pares de sapatos, etc.

Um casaco = R$ 100. Um gravador = R$ 200.

Como expressar um casaco e um gravador? Dois casacos = Um gravador. A expressão do casaco não é o casaco. Ele tem que expressar uma coisa que é distinta de si.

Tomemos ainda duas mercadorias, por exemplo, trigo e ferro. Qualquer que seja sua relação de troca, poder-se-á, sempre, representá-la por uma equação em que dada quantidade de trigo é igualada a alguma quantidade de ferro, por exemplo, x de trigo = y de ferro. Que diz essa equação? Que algo em comum da mesma grandeza existe em duas coisas diferentes, em 1 x de trigo é igual a 1 y de ferro. Ambas são, portanto, iguais a uma terceira, que em si e para si não é nem uma nem outra. Cada uma das duas, enquanto valor de troca deve, portanto, ser redutível a essa terceira.

O que é essa terceira? Não se trata de outra mercadoria. Não é nem uma (A) nem outra (B). É um equivalente. É a expressão de valor.

Um simples exemplo geométrico torna isso evidente. Para determinar e comparar as áreas de todas as figuras retilíneas tem-se que decompô-las em triângulos. O triângulo, por sua vez, reduz-se a uma expressão completamente diferente de sua figura visível: a metade do produto de sua base pela sua altura. Não é mais um triângulo visível. O mesmo ocorre com os valores de troca das mercadorias: tem-se que reduzi-los a algo comum, do qual eles representam um mais ou um menos, ou seja, seu equivalente.

  1. Porque o elemento comum ao conjunto de mercadorias, aquele que permite sua equivalência, não pode ser nenhuma de suas propriedades materiais? Qual é esse elemento comum?

Esse algo em comum não pode ser uma propriedade geométrica, física, química ou qualquer outra propriedade natural das mercadorias. Suas propriedades corpóreas só entram em consideração à medida que elas lhes conferem utilidade, isto é, tornam-nas valor de uso. Por outro lado, porém, é precisamente a abstração de seus valores de uso que
caracteriza, evidentemente, a relação de troca das mercadorias. Dentro da mesma um valor de uso vale exatamente tanto como outro qualquer, desde que esteja disponível em proporção adequada.

Cita Barbon: “Uma espécie de mercadoria é tão boa quanto outra se o seu valor de troca for igual”. Então um sapato é tão bom quanto uma calça se o valor de troca for igual

Em resposta à pergunta, não é a propriedade material que está sendo trocada.

4a. Defina: a) trabalho concreto; b) trabalho abstrato.

Como uma mercadoria encerra ao mesmo tempo o valor de uso e o valor, o trabalho que a produz tem duplo caráter. Em primeiro lugar qualquer ato de trabalho é uma atividade produtiva de um determinado tipo que visa um objetivo determinado. Assim considerado, o trabalho útil ou trabalho concreto, cujo produto é o valor de uso. Então, o trabalho concreto é aquele que cria valor de uso, é a realização prática da produção da mercadoria.

Este aspecto de atividade do trabalho é uma condição da existência humana independente de qual seja sua forma de sociedade. É uma necessidade natural eterna que .. o metabolismo entre o homem e a natureza, portanto, a própria vida humana, ou seja, a ação do sujeito sobre a natureza.

Em segundo lugar, qualquer ato de trabalho pode ser considerado separadamente de suas características específicas, simplesmente como dispêndio de força de trabalho humana, o trabalho humano puro e simples, o dispêndio de trabalho humano em geral. O dispêndio do trabalho humano considerado sob esse aspecto cria valor e é chamado de trabalho abstrato.

O trabalho concreto e o trabalho abstrato não são atividades diferentes, mas sim a mesma atividade considerada sob aspectos diferentes. O trabalho abstrato é uma capacidade do trabalho de criar um valor de troca.

Como valores de uso, as mercadorias são, antes de mais nada, de diferente qualidade, como valores de troca só podem ser de quantidade diferente, não contendo, portanto, nenhum átomo de valor de uso. Deixando de lado então o valor de uso dos corpos das mercadorias (abstraindo o valor de uso), resta a elas apenas uma propriedade, que é a de serem produtos do trabalho. Entretanto, o produto do trabalho também já se transformou em nossas mãos. Se nós abstraímos o seu valor de uso, abstraímos também os componentes e formas corpóreas que fazem dele valor de uso. Deixa de ser mesa ou casa ou fio ou qualquer outra coisa útil. Todas as suas qualidades sensoriais se apagaram.

Também já não é o produto do trabalho do marceneiro ou do pedreiro ou do fiandeiro ou de qualquer outro trabalho produtivo determinado. Ao desaparecer o caráter útil dos produtos do trabalho, desaparece o caráter útil dos trabalhos neles representados, e desaparecem também, portanto, as diferentes formas concretas desses trabalhos, que deixam de diferenciar-se um do outro para reduzir-se em sua totalidade a igual trabalho humano, a trabalho humano abstrato.

  1. O que é o valor? Que relação tem com o valor de troca?

Nenhum átomo de matéria entra na objetividade das mercadorias como valores. As mercadorias só têm caráter objetivo como valores na medida em que são todas expressões de uma substância social idêntica: o trabalho humano. Seu caráter objetivo como valor é, portanto, puramente ...(??).

Só por meio da troca de mercadorias, o trabalho privado que as produziu se torna oficial. Essa é uma das peculiaridades da forma equivalente de valor. A ... do trabalho abstrato só ocorre por meio da troca dos produtos por esse trabalho.

Consideremos agora o resíduo dos produtos do trabalho. Não restou deles a não ser a mesma objetividade fantasmagórica, uma simples gelatina (polpa) de trabalho humano indiferenciado, isto é, do dispêndio de força de trabalho humano, sem consideração pela forma como foi despendida.

O que essas coisas ainda representam é apenas que em sua produção foi despendida força de trabalho humano, foi acumulado trabalho humano. Como cristalizações dessa substância social comum a todas elas, são elas valores — valores mercantis.

Na própria relação de troca das mercadorias seu valor de troca apareceu-nos como algo totalmente independente de seu valor de uso. Abstraindo-se agora, realmente, o valor de uso dos produtos do trabalho obtém-se seu valor total. O que há de comum, que se revela na relação de troca ou valor de troca da mercadoria, é, portanto, seu valor. O prosseguimento da investigação nos trará de volta ao valor de troca, como a maneira necessária de expressão ou forma de manifestação do valor, o qual deve ser, por agora, considerado independentemente dessa forma. Quando falamos de valor, falamos de valor de troca.

Portanto, um valor de uso ou bem possui valor, apenas, porque nele está objetivado ou materializado trabalho humano abstrato. Como medir então a grandeza de seu valor? Por meio do quantum nele contido da “substância constituidora do valor”, o trabalho. A própria quantidade de trabalho é medida pelo seu tempo de duração e o tempo de trabalho
possui, por sua vez, sua unidade de medida nas determinadas frações do tempo, como hora, dia etc.

  1. “Se o valor de uma mercadoria determina-se pela quantidade de trabalho investida em sua produção, as mercadorias terão tanto mais valor quanto mais demore o indivíduo que as produz”. Comente.

Inicia-se pela diferença entre “trabalho socialmente necessário” e “trabalho individual”. O prof. deu um exemplo: três pessoas vão fazer uma calça (A,B e C). A leva 5 dias para fazer a calça. B leva 1 dia para fazer a mesma calça e C leva 3 dias. A calça será posta à venda. Partimos do princípio que o tempo de trabalho utilizado para fazer a calça fosse igual para os três (em horas): A levou 40 horas, B levou 8 horas e C levou 24 horas. Supondo que cada hora represente uma unidade monetária. A venderia por 40 UM[1], B por 8 UM e C por 24 UM.

O trabalho individual é o que cada um fez (40UM, 8UM, 24UM). Mas no mercado, nenhum dos três vai conseguir vender por esse valor. É preciso a determinação de um valor social a ser vendido, que não é exatamente a “média”, mas algo assim. O tempo de trabalho que a sociedade, na “média”, gastaria para fazer a calça é o seu valor (valor de troca da calça).

No conceito de “trabalho socialmente necessário” não entra as questões de eficiência, mas de tempo. A medida da eficiência não se pode tomar pelo tempo, mas por mercadoria produzida. Ex: Se uma costela que poderia ser feita em 5 horas for feita em 6 horas, isto é ineficiência (mesmo que com qualidade equivalente). Se a mesma costela (que levaria 5 horas para fazer) fosse feita em 1 hora, apesar de haver eficiência, tb houve inefetividade. Aqui, o tempo para a confecção da costela é necessário para a mesma, como mercadoria a ser trocada e o tempo usado não é suficiente.

(46:26) A questão da produtividade a ser discutida não é simplesmente “o quanto que eu emprego menos tempo produzindo a mesma mercadoria e, portanto, quanto eu produzo  mais-valor do que o valor de troca que tenho”. Isso é uma abstração, mas existe um produto que está no mercado e que deve ter um valor equivalente.


  1. (53:23) O que você entende por capacidade produtiva do trabalho (ou produtividade do trabalho)? De que fatores ela depende?

(54:00) O trabalho que constitui a substância dos valores, é trabalho humano igual, dispêndio da mesma força de trabalho do homem. A força conjunta de trabalho da sociedade vale aqui como uma única e a mesma força de trabalho do homem, não obstante ela ser composta de inúmeras forças de trabalho individuais. Cada uma dessas forças de trabalho individuais é a mesma força de trabalho do homem como a outra, à medida que possui o caráter de uma força média de trabalho social, e opera como tal força de trabalho socialmente média, contanto que na produção de uma mercadoria não consuma mais que o trabalho em média necessário ou tempo de trabalho socialmente necessário.

(54:50) Tempo de trabalho socialmente necessário é aquele requerido para produzir um valor de uso qualquer, nas condições dadas de produção socialmente normais, e com o grau social médio de habilidade e de intensidade de trabalho.

(55:05) É, portanto, apenas o quantum de trabalho socialmente necessário ou o tempo de trabalho socialmente necessário para produção de um valor de uso o que determina a grandeza de seu valor. Mercadorias que contêm as mesmas quantidades de trabalho ou que podem ser produzidas no mesmo tempo de trabalho, têm, portanto, a mesma grandeza de valor. O valor de uma mercadoria está para o valor de cada uma das outras mercadorias assim como o tempo de trabalho necessário para a produção de uma está para o tempo de trabalho necessário para a produção de outra.

  1. “A magnitude do valor de uma mercadoria muda em relação direta com a quantidade e em relação inversa com a capacidade produtiva do trabalho que nela se investe”. Explique.

(55:42) A grandeza de valor de uma mercadoria permaneceria portanto constante, caso permanecesse também constante o tempo de trabalho necessário para sua produção. Este muda, porém, com cada mudança na força produtiva do trabalho, ou seja, quando se muda a qualificação do sujeito, os instrumentos de trabalho, a maquinaria, etc.

A força produtiva do trabalho é determinada por meio de circunstâncias diversas, entre outras pelo grau médio de habilidade dos trabalhadores, o nível de desenvolvimento da ciência e sua aplicabilidade tecnológica, a combinação social do processo de produção, o volume e a eficácia dos meios de produção e as condições naturais.


  1. Que é uma mercadoria?

Já respondida.

  1. (57:27) Todo valor de uso é um valor. E todo valor é um valor de uso. Comente.

Quanto maior a força produtiva do trabalho, tanto menor o tempo de trabalho exigido para a produção de um artigo, tanto menor a massa de trabalho nele cristalizada, tanto menor o seu valor.

Inversamente, quanto menor a força produtiva do trabalho, tanto maior o tempo de trabalho necessário para a produção de um artigo, tanto maior o seu valor. A grandeza do valor de uma mercadoria muda na razão direta do quantum, e na razão inversa da força produtiva do trabalho que nela se realiza.

(1:00:20) Uma coisa pode ser valor de uso, sem ser valor. É esse o caso, quando a sua utilidade para o homem não é mediada por trabalho. Assim, o ar, o solo virgem, os gramados naturais, as matas não cultivadas, etc. Uma coisa pode ser útil e produto do trabalho humano, sem ser mercadoria. Quem com seu produto satisfaz sua própria necessidade cria valor de uso mas não mercadoria. Para produzir mercadoria, ele não precisa produzir apenas valor de uso, mas valor de uso para outros, valor de uso social.

(1:01:13) Adendo do Engels {E não só para outros simplesmente. O camponês da Idade Média produzia o trigo do tributo para o senhor feudal, e o trigo do dízimo para o clérigo. Embora fossem produzidos para outros, nem o trigo do tributo nem o do dízimo se tornaram por causa disso mercadorias. Para tornar-se mercadoria, é preciso que o produto seja transferido a quem vai servir como valor de uso por meio da troca.}

Finalmente, nenhuma coisa pode ser valor, sem ser objeto de uso. Sendo inútil, do mesmo modo é inútil o trabalho nela contido, não conta como trabalho e não constitui qualquer valor.
(1:04:28) Se uma mercadoria não tiver utilidade para satisfazer uma necessidade, ela é tão inútil quanto o trabalho nela contido, ou seja, isso tb é abstrato, pois no mundo do capital ninguém vai criar uma fábrica para coisas inúteis para as pessoas.

(1:04:54) Crise de realização: produção de coisas que não são realizadas. O próprio mercado expurga o produto e o capitalista vai redirecionar a produção, quando produz e não consegue vender.

(1:05:26) Há dois motivos: (i) Por que venceu a validade do produto; (ii) Por causa do avanço da concorrência. Os consumidores estão preferindo o produto do concorrente. Houve produção. Houve produção de valor. Houve produção de valor de uso potencial. Mas não houve realização. Ninguém consumiu e nem o produtor vendeu.

Crise de acumulação: produz mercadoria, mas não vende. Se não vende, não realiza o valor. Se não realiza, não acumula capital.


  1. (1:06:54) Explique detalhadamente em que consiste o duplo caráter do trabalho.

A mercadoria é uma unidade de valor de troca. Mas só o é pq o trabalho que a produziu tem um duplo caráter.

(1:10:23) Trabalho útil – valor de uso – trabalho concreto. / Trabalho social – valor de troca – trabalho abstrato.

Ambos estão na mesma mercadoria mas não da mesma forma.

(1:11:20) O dispêndio de trabalho humano cria valor e é chamado de trabalho abstrato. O trabalho concreto e o trabalho abstrato não são atividades diferentes, mas a mesma atividade considerada em seus aspectos diferentes.

O trabalho que produz a mercadoria tem duplo caráter. É trabalho útil ou trabalho concreto, cujo produto é o valor de uso. Esse aspecto da atividade do trabalho é uma condição da existência humana, dependendo qual seja a sociedade. Qualquer ato de trabalho pode ser considerado separadamente de suas características específicas, simplesmente como dispêndio de trabalho humano (puro e simples). Quando o trabalho útil é relacionado ao valor de uso, estamos falando do trabalho concreto. Quando se fala em trabalho social, que dá a medida do valor de troca, é trabalho abstrato.

A mercadoria contém um duplo caráter (valor de uso e valor de troca), o trabalho que a produz também (concreto e abstrato).

  1. (1:13:26) “A divisão social do trabalho é condição de vida (ou pressuposto) da produção de mercadorias, embora esta não seja, por sua vez, pressuposto da divisão social do trabalho.” Explique e dê exemplos.

Na totalidade dos vários tipos de valores de uso ou corpos de mercadorias aparece uma totalidade igualmente diversificada, de acordo com gênero, espécie, família, subespécie, variedade, de diferentes trabalhos úteis — uma divisão social do trabalho.

Ela é condição de existência para a produção de mercadorias, embora, inversamente, a
produção de mercadorias não seja a condição de existência para a divisão social do trabalho.
Na antiga comunidade hindu o trabalho é socialmente dividido sem que os produtos se tornem mercadorias. Ou, um exemplo mais próximo, em cada fábrica o trabalho é sistematicamente dividido, mas essa divisão não se realiza mediante a troca, pelos trabalhadores, de seus produtos individuais. Apenas produtos de trabalhos privados autônomos e independentes entre si confrontam-se como mercadorias.

Viu-se, portanto: o valor de uso de cada mercadoria encerra determinada atividade produtiva adequada a um fim, ou trabalho útil. Valores de uso não podem defrontar-se como mercadoria, caso eles não contenham trabalhos úteis qualitativamente diferentes. Numa sociedade cujos produtos assumem, genericamente, a forma de mercadoria, isto é, numa sociedade de produtores de mercadorias, desenvolve-se essa diferença qualitativa dos trabalhos úteis, executados independentemente uns dos outros, como negócios privados de produtores autônomos, num sistema complexo, numa divisão social do trabalho.

  1.  (1:16:25)  “A única fonte de valores de uso é o trabalho”. Comente

(1:17:45) Como criadores de valores de uso, com trabalho útil, é o trabalho, por isso, uma condição de existência do homem, independente de todas as formas de sociedade, eterna necessidade natural de mediação do metabolismo entre homem e natureza e, portanto, da vida humana.

Os valores de uso casaco, linho etc., enfim, os corpos das mercadorias, são ligações de dois elementos, matéria fornecida pela natureza e trabalho. Subtraindo-se a soma total de todos os trabalhos úteis contidos no casaco, linho etc., resta sempre um substrato material que existe sem ação adicional do homem, fornecido pela natureza.

Ao produzir, o homem só pode proceder como a própria natureza, isto é, apenas mudando as formas das matérias. Nesse trabalho de formação ele é constantemente amparado por forças naturais. Portanto, o trabalho não é a única fonte dos valores de uso que produz,
da riqueza material. Dela o trabalho é o pai e a terra a mãe.

  1. (1:20:43) Explique em que consiste cada uma das modalidades de trabalho humano abstrato: o trabalho simples e o trabalho complexo.

A alfaiataria e a tecelagem são trabalhos qualitativamente diferentes. Existem, entretanto, circunstâncias sociais em que a mesma pessoa, alternadamente, costura e tece. Esses dois modos diferentes de trabalho são, por isso, apenas modificações do trabalho do mesmo
indivíduo, e ainda não funções fixas, específicas de indivíduos diferentes.

A evidência ensina ainda que em nossa sociedade capitalista, conforme a mutável orientação da procura de trabalho, dada porção do trabalho humano deverá ser alternadamente oferecida ora sob a forma de alfaiataria, ora sob a forma de tecelagem. Essa variação da forma do trabalho pode não transcorrer sem atritos, mas ela tem de ocorrer.

Abstraindo-se da determinação da atividade produtiva e, portanto, do caráter útil do trabalho, resta apenas que ele é um dispêndio de força humana de trabalho.

São apenas duas formas diferentes de despender força humana de trabalho. Contudo, para poder ser despendido dessa ou daquela forma, precisa a força humana de trabalho estar mais ou menos desenvolvida. Mas o valor da mercadoria representa simplesmente trabalho humano, dispêndio de trabalho humano sobretudo.

Assim como na sociedade burguesa um general ou banqueiro desempenha um grande papel, enquanto o homem simples, ao contrário, desempenha um papel ordinário, assim é também aqui com o trabalho humano. Ele é dispêndio da força de trabalho simples que em média toda pessoa comum, sem desenvolvimento especial, possui em seu organismo físico. O simples é aquilo que todo mundo possui.

Embora o próprio trabalho médio simples mude seu caráter (o que é simples não o é para sempre), em diferentes países ou épocas culturais, ele é porém dado em uma sociedade particular. Trabalho mais complexo vale apenas como trabalho simples potenciado ou, antes, multiplicado, de maneira que um pequeno quantum de trabalho complexo é igual a um grande quantum de trabalho simples. . Marx usa esta distinção pq chega um momento em que é preciso reduzir para comparar quantum de funções diferentes (engenheiro e operador de máquina, por exemplo). Para poder comparar essa grandeza é preciso chegar no complexo a partir do simples.

(1:24:05) Uma mercadoria pode ser o produto do trabalho mais complexo, seu valor a equipara ao produto do trabalho simples e, por isso, ele mesmo representa determinado quantum de trabalho simples. As diferentes proporções, nas quais as diferentes espécies de trabalho são reduzidas a trabalho simples como unidade de medida, são fixadas por meio de um processo social por trás das costas dos produtores e lhes parecem, portanto, ser dadas pela tradição. Para efeitos de simplificação valerá a seguir cada espécie de força de trabalho, diretamente, como força de trabalho simples, com o que apenas se poupa o esforço de redução.

  1.  (1:25:12) “Se com relação ao valor de uso, o trabalho representado pela mercadoria só interessa qualitativamente, com relação à magnitude do valor interessa só seu aspecto quantitativo, uma vez reduzido à unidade de trabalho humano puro e simples.” Explique detalhadamente o significado deste parágrafo.

(1:28:10) Existe uma coisa que é quantidade de trabalho socialmente necessário e, desta forma, é possível “reduzir” a algum valor que se possa comparar. Então, ao se produzir determinada mercadoria, pelo tempo de trabalho socialmente necessário, é possível estabelecer o valor equivalente com outra.

Como se compara a grandeza do trabalho (grandezas que podem ser trocadas)? Através do tempo socialmente necessário é que se representa a grandeza e é possível fazer trocas.

Valor de uso = qualidade. Valor de troca = quantidade.

Para pensar em valor de uso, é preciso pensar em como uma determinada mercadoria supre as necessidades. Neste sentido, a avaliação a fazer é qualitativa e não quantitativa. Mas no momento da troca (realização do valor), o que importa é a quantidade de trabalho socialmente necessário que permite se estabelecer grandezas que aparecem no produto e que são intercambiáveis (dois sapatos = uma calça).

Marx disse que se abstrairmos todo o trabalho de um produto, no final, chegamos à natureza.




  1. (1:36:30)  “O mesmo trabalho rende, durante o mesmo tempo, idêntica quantidade de valor, por muito que mude sua capacidade produtiva”. Comente.

Um quantum maior de valor de uso representa em si e para si maior riqueza material, dois casacos mais que um. Com dois casacos podem-se vestir duas pessoas, com um casaco, somente uma pessoa, etc.

Entretanto, à crescente massa de riqueza material pode corresponder um decréscimo simultâneo da grandeza de valor. Esse movimento contraditório origina-se do duplo caráter do trabalho (concreto e abstrato).

Força produtiva é sempre, naturalmente, força produtiva de trabalho útil concreto, e determina, de fato, apenas o grau de eficácia de uma atividade produtiva adequada a um fim, num espaço de tempo dado. O trabalho útil torna-se, portanto, uma fonte mais rica ou mais pobre de produtos, em proporção direta ao aumento ou à queda de sua força produtiva. Ao contrário, uma mudança da força produtiva não afeta, em si e para si, de modo algum o trabalho representado no valor.

Como a força produtiva pertence à forma concreta útil do trabalho, já não pode esta, naturalmente, afetar o trabalho, tão logo faça-se abstração da sua forma concreta útil (tão logo vc retire essa forma concreta). O mesmo trabalho proporciona, portanto, nos mesmos
espaços de tempo, sempre a mesma grandeza de valor, qualquer que seja a mudança da força produtiva. Mas ele fornece, no mesmo espaço de tempo, quantidades diferentes de valores de uso; mais, quando a força produtiva sobe, e menos, quando ela cai.

A mesma variação da força produtiva, a qual aumenta a fecundidade do trabalho (produtividade) e, portanto, a massa de valores de uso por ela fornecida, diminui, assim, a grandeza de valor dessa massa global aumentada, quando ela encurta a soma do tempo de trabalho necessário à sua produção. E vice-versa (ou seja, se vc encurta o tempo de trabalho vc tem uma grandeza, se vc aumenta o tempo de trabalho vc tem outra grandeza).

Todo trabalho é, por um lado, dispêndio de força de trabalho do homem no sentido fisiológico, e nessa qualidade de trabalho humano igual ou trabalho humano abstrato gera o valor da mercadoria. Todo trabalho é, por outro lado, dispêndio de força de trabalho do homem sob forma especificamente adequada a um fim, e nessa qualidade de trabalho concreto útil produz valores de uso – trabalho concreto.

O sujeito, ao produzir a mercadoria para uma determinada finalidade, produz valor de uso. A realização dessa produção, ou seja, o tempo de trabalho socialmente necessário para produzi-la, o ato de produzir, o trabalho concreto da produção, vai gerar um valor de troca – trabalho abstrato.

Todo trabalho que se faz é um trabalho concreto. Está produzindo algo visando um fim. Isso é valor de uso. Mas se deseja socializar esse produto, colocar no mercado, ele precisa de uma base de comparação, ou seja, uma grandeza na qual o produto será referenciado com outros produtos. Quanto vale o produto? Hoje fazemos essa grandeza de uma forma “dinheiro” (meio de troca mais líquido). Mas se estabelecermos troca entre mercadorias, estaremos comparando grandezas diferentes (por ex., casaco com calça). Como se representa isso? Através do trabalho abstrato, ou seja, quando não só se produziu para o valor de uso, mas para a troca.

Mas quando se produz para a troca, é preciso estabelecer o valor, que é medido pela quantidade de trabalho socialmente necessário.
(1:45:52) SÍNTESE

1 – Tudo o que tem valor de troca, deve ter valor de uso. Nem tudo que tem valor de uso, tem valor de troca.
2 – É preciso produzir valor de uso para tornar possível o valor de troca. Se a mercadoria não tem utilidade para a satisfação de nenhuma necessidade, ela não é trocada.
3 – Esse conceito do duplo caráter da mercadoria remete ao duplo caráter do trabalho, que corresponde ao mesmo princípio. Trabalho concreto e abstrato.
4 – O trabalho concreto do sujeito que realiza o trabalho na produção e o trabalho abstrato que está na esfera da troca.
5 – Trabalho simples é a condição média de todos os trabalhos e o trabalho complexo requer uma elaboração para além do trabalho simples.
6 – Marx usa, neste momento, esta abstração, porque para se comparar o tempo de trabalho socialmente necessário, que representaria o valor de troca, a parte quantitativa da mercadoria, não se pode comparar, por ex., o trabalho do engenheiro com o do pedreiro. Desta forma, é preciso estabelecer um meio de comparação. Não de trata de reduzir o trabalho do engenheiro ao trabalho do pedreiro, mas o trabalho socialmente necessário para produzir uma coisa e outro trabalho para outra, são coisas de diferentes magnitudes. O trabalho mais complexo é representado a partir do trabalho mais simples. Esta representação é abstrata.
7 – Valor de uso como medida qualitativa e o valor de troca como medida quantitativa.




[1] Unidade Monetária.