terça-feira, 29 de junho de 2010

AULA 4 - TEORIA CRÍTICA DAS ORGANIZAÇÕES

Aula do dia 01/7/2010


Prof. José Henrique de Faria


PS: todas as dúvidas salientadas em amarelo, foram dirimidas pelo professor.
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FAE – CENTRO UNIVERSITÁRIO
PROGRAMA DE MESTRADO INTERDISCIPLINAR EM ORGANIZAÇÕES E DESENVOLVIMENTO – PMOD
DISCIPLINA: TEORIA CRÍTICA EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS – 4º. ENCONTRO
Por Rossana Cristine Floriano Jost
I.                    Foco do estudo
Capítulo 4 – ECONOMIA POLÍTICA DO PODER – VOL. 1, José Henrique de Faria, 2010, Editora Juruá.
II.                 Percepções da aluna
1 – CONCEITO
O capítulo reflete sobre o significado de “PODER”: as diversas conotações usadas no cotidiano; a confusão existente mediante a apropriação indevida do termo com outros conceitos, como: autoridade, coerção, liderança, etc.; bem como estrutura uma análise, a partir de enfoques multidisciplinares, quais sejam:
ENFOQUE SISTÊMICO-FUNCIONALISTA
Deutsch
Para Deutsch, o poder é a capacidade que possui o indivíduo (ou uma organização) de impor extrapolações ou projeções de sua estrutura interna em seu meio ambiente. Não é centro da política, mas componente e mecanismo importante que pode “segurar a onda” se o fim proposto não for realizado.
Análise Crítica à vazio existencial pelo excesso de conformismo.
Parsons
Para Parsons, poder é a capacidade de assegurar o cumprimento de obrigações impostas por unidades, em uma organização coletiva (metas), cujo mecanismo pode ser o intercâmbio baseado nos interesses gerais (sanções), quando o conjunto não percebe suas obrigações. Aparece sob as formas: persuação, ativação de compromissos, incentivo e coerção.
Análise Crítica à nem tudo é tão somente “moeda”. Há outros aspectos objetivos e subjetivos que devem ser considerados nas “ações de troca”, sobretudo o respeito às normas e valores das relações sociais, bem como regras de conduta.
ENFOQUE WEBERIANO
Weber
Possibilidade de impor a própria vontade, dentro de uma relação social, mesmo contra a resistência e qualquer que seja o fundamento desta possibilidade” p. 109. Penso que seja a única forma de poder que conheci, nesta vida: pessoas realizando a vontade de outras pessoas, coercivamente (a clássica expressão, com sorriso nos lábios: “faça isso, senão...”).
Análise Crítica à mesmo alimentando a teoria social, o enfoque “reduz as relações de poder a iniciativas individuais” e vale-se da maneira racional para atingir os objetivos, com os meios instrumentais. É a influência “à mão de ferro” da vontade de outrem, reprimindo todo e qualquer tipo de conflito.
Mills
Há um pressuposto da obediência ou do acatamento pela imposição ou interesse de cooperação. Mills coloca a questão da legitimação do poder nas instituições, sua continuidade e importância. Sobre onde o “poderoso” seja realmente “poderoso”...  Penso eu: em determinadas instituições, com pouco prestígio e baixa representatividade, isso poderia ser um “tiro pela culatra”, não?

ENFOQUE DO COMPORTAMENTO
Corrente Behaviorista
Vygotsky
Korda
A vida como um jogo de poder, objetivando descobrir o que se quer e conseguir, valendo-se da ânsia de poder das pessoas, que as mantém trabalhando (que terrível isso!). Poderia pensar que esse jogo poderia também representar o “dar a corda para alguém enforcar-se”? Aproveita-se o desejo do outro para apanhá-lo, extingui-lo...
Poder, como o desejo mais pessoal que um indivíduo possui, ligado à sobrevivência em um mundo difícil e exigente. Entra a figura do gerente (capataz) que conduz os subordinados (escravos), levando-os a produzir para a organização. Entendo que o desejo de poder do gerente pode representar algo muito mais perigoso do que se imagina, sobretudo se for pouco. Pouco poder “nas mãos” de mentes pequenas pode dar um tremendo estrago na empresa...
Dahal

A à B = B faz algo que jamais faria de outro modo. Na hierarquia: A à B, C, D, E, .... Todavia, B à A = Não é admitido. Poder,  como exercício unilateral, sem oposição ou resistências, sem interesses ou motivações subjetivas.
French & Raven
A[1]  O àP   =  Influência, poder cinético. Poder, influência potencial (máxima influência possível).
P pode se identificar com O ou opor-se a ele.
O à P, de modo que O mudou P = poder positivo
O ß P, de modo que P resistiu a O = poder negativo.
Quanto às bases que esses autores atribuíram ao poder:
Recompensa (lembrei do exemplo do burro andando com a cenoura amarrada à sua frente); Coerção (lembrei da obrigatoriedade do voto); Legitimidade (lembrei da família, obedecer aos pais, aos mais velhos, às autoridades, etc.); Referência (lembrei que pode ser uma situação possível na relação orientador/orientado); Especialização (lembrei da relação aprendiz e mestre).
Identificação + Influência = Mudança Psicológica.
Bachrach e Baratz
A participa dos processos decisórios que afetam B (muito usado pelo nível tático). E também a questão: “fazer as regras do jogo de forma que nos favoreçam...”. O duro é quando a vida muda as regras do jogo... e, então, B mobiliza-se contra as investidas de A. Estava aqui pensando com os meus botões: A, no auge de sua “autoridade”, poderia punir B?
Partindo da relação entre homem e natureza por meio do trabalho e da relação entre o uso de instrumentos e a linguagem, Vygostky afirma que a fala do indivíduo pode controlar o ambiente antes mesmo de seu comportamento, habilitando-o a buscar auxílio na solução de problemas, superar atitudes impulsivas, entre outros.
Aqui fiz uma analogia: as lideranças dos grupos sociais, bem como a construção de símbolos que direcionam politicamente as escolhas dos membros (e legitimadas), além dos discursos que contam a história de acordo com a preferência, poderiam ser ilustrados no quadro patético das propagandas “eleitoreiras”? Infelizmente elas estão bem próximas...
Essa possibilidade do indivíduo poder transformar-se a si mesmo, bem como o grupo a que pertence, através de sua fala (que pode ser totalmente desprovida da verdade), meio pelo qual usa no intuito de ter sua vontade assumida pelo grupo social, como se fosse a vontade coletiva, parece-me muito esclarecedor, sobretudo, para entender o comportamento dos indivíduos nos grupos, como consta na p. 117.
Então, vem-me à mente a imensa massa de manobra, aliciada por palavras, símbolos e comportamentos considerados “modelos”. Seria a falta de modelos “melhores”, ou a não percepção da “sedução politicamente correta”?

Análise Crítica (Comportamento Humano) à reduz a relação entre dois agentes desconsiderando os demais, bem como desconsidera a motivação do subordinado, tampouco sua resistência (se existir).
Análise Crítica à Pelo que entendi, este enfoque não considera opiniões contrárias (de sujeitos frutos de sua relação complexa com a sociedade). É isso?

ENFOQUE ORGANIZACIONAL (O poder, em sete visões)
Michels
Privilégio e deve ser mantido, a qualquer custo. Ligado à dominação (indivíduo e/ou grupo), provocado pela apatia das multidões que necessitam serem “guiadas”. Democracia “aparente”. Aqui passa-me a idéia da criança incapaz que “pede” para ser educada/orientada pelos pais.
March & Simon
Controle sobre as “variáveis de incerteza”, absorvendo as estruturas de influência na organização, através do conhecimento técnico. Neste caso, eu poderia citar como exemplo, pessoas ou grupos que detém a responsabilidade técnica de uma rede de computadores (software ou hardware)? Imagine os provedores do GOOGLE, ou software de administração do setor de TI (Tecnologia da Informação), de uma, digamos, Receita Federal? Ou mesmo um banco? Ou, ainda, organizações completamente reféns da tecnologia? Quem tem esse tipo de conhecimento “nas mãos”, teria esse tipo de poder?
Thompson
Monopolização de meios de satisfação das necessidades, criando uma relação de dependência entre a empresa e funcionários. Entendi que a empresa “seduz” seus funcionários, com mil benesses, criando a completa dependência dos mesmos. Mais ou menos: auxílio mestrado (ou universidade, etc.), carro disponível, auxílio moradia, plano de saúde padrão classe A, convênios mil com tudo o que há de melhor, e por aí vai....  Seria isso?
Análise Crítica à Essa dependência desconsidera a vontade do sujeito tampouco dá espaço para confrontos e resistência. Afinal, se a empresa satisfaz todas as necessidades, não há motivo para contestações. Puxa, o indivíduo foi transformado numa “tábua rasa”.... sem aderência.
Friedberg
Não há ação social sem um poder que supõe regulação de comportamentos, resultando em um jogo com regras definidas. Enfatiza a cooperação e as trocas desequilibradas, com objetivo comum.
Foucault
Prática social historicamente determinada e que aparece de diferentes formas. Três aspectos: suplício (da violência carnal à ocupação da consciência abstrata), punição (do castigo físico à instrução da alma no palco da justiça penal) e disciplina (fundada na relação obediência-utilidade, na coerção do corpo, na docilidade que aumenta a utilidade econômica e a obediência política).
Mills
Quantidade invariante em uma sociedade ou instituição. Para alguém ter poder, outro deve perdê-lo. Isso daria o direito da pessoa “fazer com que a outra perca esse poder”? Essa perda de poder poderia ser “fabricada”?
Análise Crítica à A perda de capacidade política de um grupo nem sempre resulta que outro possa tê-la ganho. Não existe “quantidade disponível de poder” a ser partilhado. Devo confessar que não entendi muito bem esse “soma-zero” .
Galbraith
O que acontece entre as fontes do poder (personalidade, propriedade, organização) e os instrumentos pelos quais é exercido (punição/recompensa – influência/persuasão).
Análise Crítica à O lado oculto da realização dos interesses.
ENFOQUE MARXISTA

Poder é um produto da necessidade histórica, intimamente ligado às relações de classe e seu exercício está vinculado à organização econômica da sociedade. Poder político é o poder organizado de uma classe para oprimir outra. A dominação das classes resulta dos modos de produção que se estabelecem sobre uma desigualdade econômica onde há a exploração entre os detentores dos “meios de produção” e da “força de trabalho”.
O poder econômico do capital transforma a atividade livre em um simples trabalho, pois é através do capital que o capitalista exerce sua dominação. O poder do capital é uma dominação que depende da forma específica de trabalho dentro de cada sociedade – estrutura econômica.
Estado influenciado por vários segmentos da classe dominante cujo lugar privilegiado possibilita definições de acordo com seus interesses (tão somente), mas em nome dos interesses sociais – estrutura política.
Nas palavras de Poulantzas, poder é “a capacidade de uma classe social de realizar seus objetivos específicos”.

Análise Crítica à Entendi que essa visão reduz tudo a “relações de classe” e que desconsidera os processos subjetivos, o ser humano “indivíduo”. Além disso, quem garante que, uma vez realizados os interesses das classes, isso seria solução?

ENFOQUE DA PSICOSSOCIOLOGIA

A psicossociologia relaciona o indivíduo/sujeito ao seu ambiente social (grupo, organização ou instituição). Nesta linha, Enriquez entende a Instituição como “lugar do poder”, histórica, que mobiliza as pulsões, regula a sociedade e socializa as pessoas para torná-las dóceis e submissas. O indivíduo consente as normas, pela interiorização dos valores, adesão às orientações, fascinação exercida pelos dominadores e pelo medo de sanções.
Lado violento e cruel do poder. Assim as relações de poder respaldam um conhecimento equivocado (de seus próprios detentores), provocado pela identificação psíquica, entre outros mecanismos.
Pagès e outros relacionam o poder com as organizações pelas mediações econômicas, autonomia controlada, produção ideológica e dominação psicológica dos trabalhadores (mediação das contradições). Este é o lugar de poder onde a prática política é exercida através da concepção, aplicação e controle.
Trocando em miúdos - I
Poder é uma capacidade e não um atributo.
Poder pertence a uma instância coletiva e não a uma pessoa (que pode até ter autoridade do cargo, influência, etc.).
Poder para ser efetivo tem que ser exercido.
Nem só as relações de dominação constituem o poder, mas os conflitos também.
Poder exercido através de determinados lugares, cuja ocupação é disputadíssima.

2 - RELAÇÕES DE PODER NAS ORGANIZAÇÕES
2.1 – Coerção, Coação e Repressão
Censura. Impedimento. Aplicação de sanções físicas (ou ameaças), psicológicas, sociais e culturais, de forma a castigar, restringir movimentos, reprimir a expressão de sentimentos, controlar a satisfação das necessidades básicas, provocar escassez de recursos, bloquear a obtenção de conhecimentos, induzir ao medo, impedir/punir manifestações espontâneas, cercear desempenhos, etc. Principal meio de coibição é a força, legitimada pelo Estado e pela organização. Vêm-me à mente a relação entre seqüestrador e seqüestrado (no cativeiro - fisicamente).
2.2 – Autoridade
Segundo o modelo de Weber, há 3 tipos de caráter de autoridade: racional (autoridade por legalidade), tradicional (autoridade legitimada pela tradição) e carismático (autoridade por modelo, exemplo), todos eles aceitos pelos que são, a eles, submetidos.
2.3 – Influência
Tipo de manifestação (simbólica e imaginária) que pressupõe uma ação em que uma pessoa exerce sobre outra, incutindo determinados valores, respeitados por quem sofre a influência. É uma condição de duplo sentido (por ex: ativa/passiva), cujos responsáveis podem não ter consciência de sua ação e se dá em função de agregação, relações sociais, posição na hierarquia, caracterizando-se pela reciprocidade.
2.4 – Liderança
Condição de um sujeito (individual ou coletivo) de conduzir, de forma determinante, as ações de outros sujeitos, mobilizá-los com convencimento, de maneira ativa e legítima, em manifestação de natureza psicológica, social e política, que ocorre em classes sociais, grupos, organizações, etc.
Trocando em miúdos - II
Poder fundamentado em uma interação complexa e contraditória entre os sujeitos coletivos da ação.
Poder como capacidade de um grupo social de definir e realizar seus interesses objetivos e subjetivos, mesmo contra qualquer tipo de resistência.
Relações de poder instituintes dos interesses objetivos e subjetivos do coletivo e não instituídas pelas crenças ou valores da sociedade.
Relações de poder como fenômenos concretos e que se manifestam de múltiplas formas.
Poder como capacidade coletiva que deve ser adquirida, desenvolvida e mantida.
Nem sempre as relações de poder são claras e diretas. É preciso, por vezes, encontrá-las na estrutura, no modelo de gestão, nas políticas e estratégias organizacionais.
Relações de poder dão suporte aos mecanismos e as formas de controle.



[1] Coloquei as chaves no sentido de dizer “no contexto de A”.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Apresentação A ORGANIZAÇÃO EM ANÁLISE, de EUGENE ENRIQUEZ

Aula do dia 24/6/2010
Prof. José Henrique de Faria
Seminário apresentado por mim e pela colega Tânia (que, aliás, mandou muito bem!)
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http://rapidshare.com/files/402400515/aula3_org_analise_apres_final.ppsx.html

AULA 2 - TEORIA CRÍTICA DAS ORGANIZAÇÕES

Aula do dia 17/6/2010
Prof. José Henrique de Faria
PS (como o blog é meu, posso colocar o PS onde quiser): todas as dúvidas salientadas em amarelo, foram dirimidas pelo professor.
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FAE – CENTRO UNIVERSITÁRIO
PROGRAMA DE MESTRADO INTERDISCIPLINAR EM ORGANIZAÇÕES E DESENVOLVIMENTO – PMOD

DISCIPLINA: TEORIA CRÍTICA EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS – 2º. ENCONTRO
Por Rossana Cristine Floriano Jost[1]
I.                   Foco do estudo
Capítulo 2 – RELAÇÕES DE TRABALHO NO SISTEMA DE CAPITAL, do livro GESTÃO PARTICIPATIVA, José Henrique de FARIA, 2009, Editora Atlas.
II.                Percepções da aluna
Para melhor organizar “mentalmente” o assunto do capítulo, optei por seguir a ordem das três partes.
Parte 1 - Processo e organização do trabalho: a trajetória da resistência operária
Sempre gostei de saber a história das coisas, pois ela pode desvelar fatos que explicam determinados comportamentos. Acho que aqui se insere perfeitamente isso. Por exemplo, sobre as alterações na estrutura das organizações (estratégias de gestão, entre outros) ao longo do tempo, em função dos conflitos de classe. Aquele quadrinho da p. 44 suscita-me o pensamento sobre o tal movimento de “resistência”, sempre mal visto e mal interpretado pela sociedade, até hoje.  Parece-me que a fronteira de reflexão das pessoas encerra-se no quanto a falta de tal serviço vai afetar sua “vidinha”, independentemente do quadro maior de caos instaurado. A empresa invade a subjetividade do trabalhador, seqüestra-lhe a alma, as vontades, sua criatividade, e esse movimento do “contrapoder dos operários”, que forja a “dinâmica das relações de trabalho” e que vai desenhando “a facão” um triste cenário de cotidiano laboral, incomoda por questões tão somente individuais. Aqui o coletivo não tem a menor importância.
Acompanhando a história, no livro, parece-me que as estruturas objetivas do mundo feudal, na verdade, nunca se dissolveram. Ainda estão presentes na “venda da força de trabalho no mercado” e que a produção, mesmo em larga escala, ainda depende do chicote do “senhor dos feudos”, hoje o empresário.  E o chicote? A sedução humanista no melhor estilo “Elton Mayo”.
Aqui entra minha primeira dúvida: o que significa PRODUÇÃO DE EXCEDENTES?
Quando o capítulo entra na imposição da divisão do trabalho, com o respaldo da tecnologia e tendo como conseqüência a extrema simplificação das tarefas do operário, mudando, desta forma, toda a cadeia de produção, remete-me à instituição oficial do adoecimento deste operário, sobretudo sua condição psíquica. Não pude deixar de me lembrar do filme TEMPOS MODERNOS de Chaplin, o qual fiz o download de algumas partes, editei e postei em nossa rede social (links: http://mestradofae.ning.com/video/chaplin1teoria-critica e http://mestradofae.ning.com/video/chaplin2teoria-critica). Esse filme ilustra de forma soberba as palavras do autor.
Sobre as fiandeiras da indústria têxtil da Inglaterra, migrando de suas casas para as fábricas, com seus modernos teares mecânicos, momento em que o trabalho em domicílio é eliminado. Penso na alternativa de trabalho dos novos tempos: home office, hoje, na completa contramão do ano de 1780. Naturalmente, essa modalidade de trabalho, que também envolve tecnologia, talvez seja mais apropriada para trabalhos intelectuais (estes seriam os produtores indiretos que o livro se refere?), o cognitariado, sobretudo na área de TI (Tecnologia da Informação).
Mas também já presenciei a criação de pequenos ateliers caseiros que produziam tarefas terceirizadas para fábricas de calçados do Vale dos Sinos[2] (Nova Hartz, Sapiranga, Novo Hamburgo, São Leopoldo/RS), reduzindo os custos trabalhistas dos empresários calçadistas. Este exemplo penso vir ao encontro do assunto em questão: a forma de dominação existente da organização do trabalho (mesmo em mão-de-obra terceirizada). E, pelo visto, sem muitas mudanças, pois a produção nunca pode parar e o capital segue acumulando. Também fiquei pasma ao constatar, na p. 50 do livro, o trabalho infantil já instituído em 1835!
E agora a figura do “gerente”, os gestores do processo de trabalho, contratados para controlar os produtores diretos e ainda determinar o ritmo de trabalho (inclusive o seu). Lembrei das palavras de Ludwig Waldez (link: http://mestradofae.ning.com/video/waldez-ludwig), que denominou os gerentes de “capatazes” e no que eles se transformaram. Hoje, absorvendo a história que o livro apresenta, entendi perfeitamente o porquê.   Da concepção e comando do processo de trabalho a “gestores do nada”. São incapazes de “controlar” ações sutis, como por exemplo, o boicote às tarefas, da parte dos trabalhadores, à revelia da repressão do estado, estimulados pelos sindicatos. É preciso muito mais que isso....  Cada pessoa é única e capaz de criar coisas incríveis.
Parte 2 – Ideologia e fundamentos da teoria administrativa: uma análise na perspectiva de Tragtenberg
Na p. 56, as palavras de SWINGEWOOD “consciência social alienada é aquela que passou a ser dominada por um mundo de coisas, no qual a realidade não é mais considerada como uma realidade humana, mas uma ideologia de atributos humanos.
Por esses atributos referidos poderíamos entender como a questão de ser bem sucedido, ser proprietário de coisas caras, boa casa, bom carro, levar vantagem nas coisas, ter dinheiro, ser materialmente bem colocado na vida social, profissional, etc.?
Outro ponto interessante é o surgimento da Escola das Relações Humanas de Elton Mayo (p.57), a forma sedutora de apaziguamento de conflitos, a ideologia da harmonia  através da manipulação sofisticada que visa difundir ainda mais a ideologia gerencial capitalista, bem como o estado de “colaboração”[3] promovendo a dita “saúde social”, que ao meu ver, poderia ser substituída pela frase: “me engana que eu gosto”.
Este momento histórico poderia marcar os primeiros fatos configuradores do “seqüestro da subjetividade”?
A desapropriação da iniciativa do trabalhador, sua distância com o saber do ofício e mecanização (saber instrumental, o “aperta botões”), naturalmente o leva a adoecer. A cadeia de produção o obriga a fazer sua parte e, tão logo termine, repassar adiante. Os clientes internos exigem, por vezes, muito mais que os externos. E são implacáveis.
O que são líderes plurocráticos (p.58) de equipes de trabalho? Tem a ver com a liderança difusa em que “colega controla colega”? E os “pactos”, as facilidades possivelmente combinadas, em troca de reconhecimento?
Quanto a figura do “agitador” (p.60), alguém pago para fazer o trabalhador interessar-se pelo que faz, extraindo sua cooperação voluntária, manipulando-o para a produção.,
Minha pergunta é: o que pensa um agitador? Ele tem consciência crítica de seu papel de controle e manipulação dos indivíduos no trabalho? Ou entende que “sem ele”, o trabalho não acontece? Qual o perfil apropriado?[4]
E constatamos que, passaram-se anos e nada mudou. A gestão da dominação e a sutileza das formas de controle ainda persistem na administração atual: opressão do homem pelo homem. Tais formas, de ordem objetiva e de ordem subjetiva (o lado oculto e não compartilhado). Aqui me ocorre uma pergunta:
As formas de controle de ordem subjetiva poderiam decorrer dos chamados “contratos psicológicos” estabelecidos entre a empresa e o trabalhador, já no início de sua vida laboral na empresa?

Parte 3 – A organização do trabalho e a ordem capitalista
Aqui senti necessidade de entender melhor determinadas expressões, a saber:
Expressão
Significado
Força de trabalho
Capacidade
Meios de trabalho
Maquinaria, instrumentos, etc.
Processo de trabalho
Dinheiro à mercadorias à capital, através dos meios de trabalho
Objetos de trabalho
A força de trabalho necessita para trabalhar
Relações de posse
Controle: meios de produção + agentes da valorização do capital (direção)

Relações de propriedade econômica
Controle: processo de acumulação + decisões estratégicas de investimentos
Meios de produção
Meios de trabalho + objetos de trabalho
Propriedade real
Relações de posse + relações de propriedade econômica
Propriedade legal
Papéis
Agentes da valorização do capital
Trabalhador produtivo (produtor direto + produtor indireto)
Cognitariado
Conjunto de trabalhadores instruídos, que dominam o conhecimento (o saber do ofício) com valor de mercado (WIKCIONÁRIO). Pergunta: os professores poderiam ser considerados como cognitariado?
Mais-valia
Trabalho não-pago (aqui seria o excedente?)    O que é mais-valia reativa?
Trabalhador produtivo
Produz mais-valia para o capitalista, mais valor para o capital. O trabalhador mental (produtor indireto), segundo o livro, atua na concepção do trabalho (supervisão, gerência, etc...). Mas um “operário mental” (engenheiro, programador de computador, etc.), que não ocupa lugar hierárquico algum, pode também ser considerado como produtor indireto.
Unidade dos processos de trabalho

Cooperação
Forma de trabalho planejada em que as pessoas trabalham em conjunto, no mesmo processo ou em diferentes processos conectados. “Força das massas”: o todo é maior que a soma das partes. Com a supervalorização do capital, a exigência da eficácia e o crescimento das redes aumentam a resistência e a pressão do capital para superá-la (através de regras, normas, etc.). Círculo vicioso. Com isso tudo, o trabalhador perde-se de si mesmo, numa solitária relação com o capital.
Estranhamento do trabalhador
Alienação da mercadoria que produziu?
Alienação
Segundo Marx, é quando o homem objetificado encontra sua atividade operando nele como um poder estranho, opressivo, externo.
Divisão social do trabalho – inerente ao trabalho humano, executado na e através da sociedade;
Divisão técnica do trabalho – parcelamentos dos processos executados por diversos agentes. Dessa divisão surge o trabalhador divido em parcelas, distanciado do viés intelectual. Isso causaria o “estranhamento do trabalhador”?
DIVISÃO DO TRABALHO
Controle
ORIGEM E SUCESSO DA FÁBRICA
Disciplina
CONTROLE HIERÁRQUICO DA PRODUÇÃO - Hierarquia
Não foi adotada por sua superioridade tecnológica, mas porque garantia ao empresário um papel essencial ao processo de produção.
Também não se explica por sua superioridade tecnológica, mas por tirar do operário qualquer tipo de controle, dando ao capitalista o poder de prescrever o que fazer, como fazer e quanto produzir.
Não tem finalidade técnica, mas permitir (e facilitar) a acumulação do capital.
Com o agigantamento das corporações, abertura de seu capital e distribuição de suas ações, o controle sobre o que é produzido já não pertence mais ao capitalista individual, ocorrendo mudanças nas relações de propriedade, que pode ser legal: propriedade de ações (aqui pergunto, são os famosos “papéis”?); e real: propriedade econômica (controle do que é produzido) e relações de posse (controle de como é produzido).
TRANSFORMAÇÕES ESTRUTURAIS E OS PROCESSOS SOCIAIS SUBJACENTES
O trabalhador perdeu o controle sobre seu processo de trabalho, que representava um obstáculo à produção capitalista. A justificativa é  “maior produtividade”.
Separação entre propriedade econômica e relações de posse, bem como propriedade legal e real.
Hierarquias complexas.
Em busca da inovação, o nível de qualificação exigido dos trabalhadores varia, resultando em limitação de autonomia. É “coisificado”[5] como se fosse um acessório, um componente da máquina.
O aumento da produção leva os capitalistas a contratar profissionais que ajudem a coordenar o processo de produção. Os gerentes/capatazes.
Nas relações de posse: controle dos meios e dos agentes da produção, através de camadas intermediárias de chefias.
P. 72: “controle designa uma posição social entre uma posição determinada e os meios de produção.
Trabalhador coisificado x trabalhador humanizado.
Formas de dinheiro que gere dinheiro.
Nas relações de propriedade econômica:  membros da diretoria participam do “bolo”, do controle de investimentos e acumulação.
Na p. 73, as palavras de Tragtenberg: “o trabalho aparece como fator de mediação que enriquece o mundo dos objetos e empobrece a vida interior do trabalhador, na medida que este não dono de si mesmo. O resultado do trabalho é estranho ao trabalhador e surge como um poder independente”.
Em que sentido o trabalho é “estranho”? Por motivos financeiros? Porque o trabalhador é incapaz de ver o resultado de trabalho parcelar, no “todo da empresa”? Fica alienado a ele?


[1] Pedagoga com especialização em Psicologia do Trabalho (UFPR) e MBA em Marketing (IBMEC); Mestranda da FAE. rossanaflor@gmail.com.
[2] Exemplo: costurar as tirinhas de uma sandália. Milhares de tirinhas costuradas eram entregues semanalmente às fábricas, pelos “terceirizados”, geralmente donas-de-casa, com filhos pequenos, cujos maridos trabalhavam nas fábricas e que tinham esse trabalho como complementação de renda. Às vezes, a família toda se mobilizava para o atelier, seu único sustento.
[3] Lembro do termo “colaboradores” usado nas empresas. E o pior: o trabalhador acredita que a empresa assim o vê.
[4] Sempre entendi a expressão “agitador” como um “subversivo”.
[5] Lembrei novamente do filme do Chaplin.