quinta-feira, 24 de junho de 2010

AULA 2 - TEORIA CRÍTICA DAS ORGANIZAÇÕES

Aula do dia 17/6/2010
Prof. José Henrique de Faria
PS (como o blog é meu, posso colocar o PS onde quiser): todas as dúvidas salientadas em amarelo, foram dirimidas pelo professor.
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FAE – CENTRO UNIVERSITÁRIO
PROGRAMA DE MESTRADO INTERDISCIPLINAR EM ORGANIZAÇÕES E DESENVOLVIMENTO – PMOD

DISCIPLINA: TEORIA CRÍTICA EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS – 2º. ENCONTRO
Por Rossana Cristine Floriano Jost[1]
I.                   Foco do estudo
Capítulo 2 – RELAÇÕES DE TRABALHO NO SISTEMA DE CAPITAL, do livro GESTÃO PARTICIPATIVA, José Henrique de FARIA, 2009, Editora Atlas.
II.                Percepções da aluna
Para melhor organizar “mentalmente” o assunto do capítulo, optei por seguir a ordem das três partes.
Parte 1 - Processo e organização do trabalho: a trajetória da resistência operária
Sempre gostei de saber a história das coisas, pois ela pode desvelar fatos que explicam determinados comportamentos. Acho que aqui se insere perfeitamente isso. Por exemplo, sobre as alterações na estrutura das organizações (estratégias de gestão, entre outros) ao longo do tempo, em função dos conflitos de classe. Aquele quadrinho da p. 44 suscita-me o pensamento sobre o tal movimento de “resistência”, sempre mal visto e mal interpretado pela sociedade, até hoje.  Parece-me que a fronteira de reflexão das pessoas encerra-se no quanto a falta de tal serviço vai afetar sua “vidinha”, independentemente do quadro maior de caos instaurado. A empresa invade a subjetividade do trabalhador, seqüestra-lhe a alma, as vontades, sua criatividade, e esse movimento do “contrapoder dos operários”, que forja a “dinâmica das relações de trabalho” e que vai desenhando “a facão” um triste cenário de cotidiano laboral, incomoda por questões tão somente individuais. Aqui o coletivo não tem a menor importância.
Acompanhando a história, no livro, parece-me que as estruturas objetivas do mundo feudal, na verdade, nunca se dissolveram. Ainda estão presentes na “venda da força de trabalho no mercado” e que a produção, mesmo em larga escala, ainda depende do chicote do “senhor dos feudos”, hoje o empresário.  E o chicote? A sedução humanista no melhor estilo “Elton Mayo”.
Aqui entra minha primeira dúvida: o que significa PRODUÇÃO DE EXCEDENTES?
Quando o capítulo entra na imposição da divisão do trabalho, com o respaldo da tecnologia e tendo como conseqüência a extrema simplificação das tarefas do operário, mudando, desta forma, toda a cadeia de produção, remete-me à instituição oficial do adoecimento deste operário, sobretudo sua condição psíquica. Não pude deixar de me lembrar do filme TEMPOS MODERNOS de Chaplin, o qual fiz o download de algumas partes, editei e postei em nossa rede social (links: http://mestradofae.ning.com/video/chaplin1teoria-critica e http://mestradofae.ning.com/video/chaplin2teoria-critica). Esse filme ilustra de forma soberba as palavras do autor.
Sobre as fiandeiras da indústria têxtil da Inglaterra, migrando de suas casas para as fábricas, com seus modernos teares mecânicos, momento em que o trabalho em domicílio é eliminado. Penso na alternativa de trabalho dos novos tempos: home office, hoje, na completa contramão do ano de 1780. Naturalmente, essa modalidade de trabalho, que também envolve tecnologia, talvez seja mais apropriada para trabalhos intelectuais (estes seriam os produtores indiretos que o livro se refere?), o cognitariado, sobretudo na área de TI (Tecnologia da Informação).
Mas também já presenciei a criação de pequenos ateliers caseiros que produziam tarefas terceirizadas para fábricas de calçados do Vale dos Sinos[2] (Nova Hartz, Sapiranga, Novo Hamburgo, São Leopoldo/RS), reduzindo os custos trabalhistas dos empresários calçadistas. Este exemplo penso vir ao encontro do assunto em questão: a forma de dominação existente da organização do trabalho (mesmo em mão-de-obra terceirizada). E, pelo visto, sem muitas mudanças, pois a produção nunca pode parar e o capital segue acumulando. Também fiquei pasma ao constatar, na p. 50 do livro, o trabalho infantil já instituído em 1835!
E agora a figura do “gerente”, os gestores do processo de trabalho, contratados para controlar os produtores diretos e ainda determinar o ritmo de trabalho (inclusive o seu). Lembrei das palavras de Ludwig Waldez (link: http://mestradofae.ning.com/video/waldez-ludwig), que denominou os gerentes de “capatazes” e no que eles se transformaram. Hoje, absorvendo a história que o livro apresenta, entendi perfeitamente o porquê.   Da concepção e comando do processo de trabalho a “gestores do nada”. São incapazes de “controlar” ações sutis, como por exemplo, o boicote às tarefas, da parte dos trabalhadores, à revelia da repressão do estado, estimulados pelos sindicatos. É preciso muito mais que isso....  Cada pessoa é única e capaz de criar coisas incríveis.
Parte 2 – Ideologia e fundamentos da teoria administrativa: uma análise na perspectiva de Tragtenberg
Na p. 56, as palavras de SWINGEWOOD “consciência social alienada é aquela que passou a ser dominada por um mundo de coisas, no qual a realidade não é mais considerada como uma realidade humana, mas uma ideologia de atributos humanos.
Por esses atributos referidos poderíamos entender como a questão de ser bem sucedido, ser proprietário de coisas caras, boa casa, bom carro, levar vantagem nas coisas, ter dinheiro, ser materialmente bem colocado na vida social, profissional, etc.?
Outro ponto interessante é o surgimento da Escola das Relações Humanas de Elton Mayo (p.57), a forma sedutora de apaziguamento de conflitos, a ideologia da harmonia  através da manipulação sofisticada que visa difundir ainda mais a ideologia gerencial capitalista, bem como o estado de “colaboração”[3] promovendo a dita “saúde social”, que ao meu ver, poderia ser substituída pela frase: “me engana que eu gosto”.
Este momento histórico poderia marcar os primeiros fatos configuradores do “seqüestro da subjetividade”?
A desapropriação da iniciativa do trabalhador, sua distância com o saber do ofício e mecanização (saber instrumental, o “aperta botões”), naturalmente o leva a adoecer. A cadeia de produção o obriga a fazer sua parte e, tão logo termine, repassar adiante. Os clientes internos exigem, por vezes, muito mais que os externos. E são implacáveis.
O que são líderes plurocráticos (p.58) de equipes de trabalho? Tem a ver com a liderança difusa em que “colega controla colega”? E os “pactos”, as facilidades possivelmente combinadas, em troca de reconhecimento?
Quanto a figura do “agitador” (p.60), alguém pago para fazer o trabalhador interessar-se pelo que faz, extraindo sua cooperação voluntária, manipulando-o para a produção.,
Minha pergunta é: o que pensa um agitador? Ele tem consciência crítica de seu papel de controle e manipulação dos indivíduos no trabalho? Ou entende que “sem ele”, o trabalho não acontece? Qual o perfil apropriado?[4]
E constatamos que, passaram-se anos e nada mudou. A gestão da dominação e a sutileza das formas de controle ainda persistem na administração atual: opressão do homem pelo homem. Tais formas, de ordem objetiva e de ordem subjetiva (o lado oculto e não compartilhado). Aqui me ocorre uma pergunta:
As formas de controle de ordem subjetiva poderiam decorrer dos chamados “contratos psicológicos” estabelecidos entre a empresa e o trabalhador, já no início de sua vida laboral na empresa?

Parte 3 – A organização do trabalho e a ordem capitalista
Aqui senti necessidade de entender melhor determinadas expressões, a saber:
Expressão
Significado
Força de trabalho
Capacidade
Meios de trabalho
Maquinaria, instrumentos, etc.
Processo de trabalho
Dinheiro à mercadorias à capital, através dos meios de trabalho
Objetos de trabalho
A força de trabalho necessita para trabalhar
Relações de posse
Controle: meios de produção + agentes da valorização do capital (direção)

Relações de propriedade econômica
Controle: processo de acumulação + decisões estratégicas de investimentos
Meios de produção
Meios de trabalho + objetos de trabalho
Propriedade real
Relações de posse + relações de propriedade econômica
Propriedade legal
Papéis
Agentes da valorização do capital
Trabalhador produtivo (produtor direto + produtor indireto)
Cognitariado
Conjunto de trabalhadores instruídos, que dominam o conhecimento (o saber do ofício) com valor de mercado (WIKCIONÁRIO). Pergunta: os professores poderiam ser considerados como cognitariado?
Mais-valia
Trabalho não-pago (aqui seria o excedente?)    O que é mais-valia reativa?
Trabalhador produtivo
Produz mais-valia para o capitalista, mais valor para o capital. O trabalhador mental (produtor indireto), segundo o livro, atua na concepção do trabalho (supervisão, gerência, etc...). Mas um “operário mental” (engenheiro, programador de computador, etc.), que não ocupa lugar hierárquico algum, pode também ser considerado como produtor indireto.
Unidade dos processos de trabalho

Cooperação
Forma de trabalho planejada em que as pessoas trabalham em conjunto, no mesmo processo ou em diferentes processos conectados. “Força das massas”: o todo é maior que a soma das partes. Com a supervalorização do capital, a exigência da eficácia e o crescimento das redes aumentam a resistência e a pressão do capital para superá-la (através de regras, normas, etc.). Círculo vicioso. Com isso tudo, o trabalhador perde-se de si mesmo, numa solitária relação com o capital.
Estranhamento do trabalhador
Alienação da mercadoria que produziu?
Alienação
Segundo Marx, é quando o homem objetificado encontra sua atividade operando nele como um poder estranho, opressivo, externo.
Divisão social do trabalho – inerente ao trabalho humano, executado na e através da sociedade;
Divisão técnica do trabalho – parcelamentos dos processos executados por diversos agentes. Dessa divisão surge o trabalhador divido em parcelas, distanciado do viés intelectual. Isso causaria o “estranhamento do trabalhador”?
DIVISÃO DO TRABALHO
Controle
ORIGEM E SUCESSO DA FÁBRICA
Disciplina
CONTROLE HIERÁRQUICO DA PRODUÇÃO - Hierarquia
Não foi adotada por sua superioridade tecnológica, mas porque garantia ao empresário um papel essencial ao processo de produção.
Também não se explica por sua superioridade tecnológica, mas por tirar do operário qualquer tipo de controle, dando ao capitalista o poder de prescrever o que fazer, como fazer e quanto produzir.
Não tem finalidade técnica, mas permitir (e facilitar) a acumulação do capital.
Com o agigantamento das corporações, abertura de seu capital e distribuição de suas ações, o controle sobre o que é produzido já não pertence mais ao capitalista individual, ocorrendo mudanças nas relações de propriedade, que pode ser legal: propriedade de ações (aqui pergunto, são os famosos “papéis”?); e real: propriedade econômica (controle do que é produzido) e relações de posse (controle de como é produzido).
TRANSFORMAÇÕES ESTRUTURAIS E OS PROCESSOS SOCIAIS SUBJACENTES
O trabalhador perdeu o controle sobre seu processo de trabalho, que representava um obstáculo à produção capitalista. A justificativa é  “maior produtividade”.
Separação entre propriedade econômica e relações de posse, bem como propriedade legal e real.
Hierarquias complexas.
Em busca da inovação, o nível de qualificação exigido dos trabalhadores varia, resultando em limitação de autonomia. É “coisificado”[5] como se fosse um acessório, um componente da máquina.
O aumento da produção leva os capitalistas a contratar profissionais que ajudem a coordenar o processo de produção. Os gerentes/capatazes.
Nas relações de posse: controle dos meios e dos agentes da produção, através de camadas intermediárias de chefias.
P. 72: “controle designa uma posição social entre uma posição determinada e os meios de produção.
Trabalhador coisificado x trabalhador humanizado.
Formas de dinheiro que gere dinheiro.
Nas relações de propriedade econômica:  membros da diretoria participam do “bolo”, do controle de investimentos e acumulação.
Na p. 73, as palavras de Tragtenberg: “o trabalho aparece como fator de mediação que enriquece o mundo dos objetos e empobrece a vida interior do trabalhador, na medida que este não dono de si mesmo. O resultado do trabalho é estranho ao trabalhador e surge como um poder independente”.
Em que sentido o trabalho é “estranho”? Por motivos financeiros? Porque o trabalhador é incapaz de ver o resultado de trabalho parcelar, no “todo da empresa”? Fica alienado a ele?


[1] Pedagoga com especialização em Psicologia do Trabalho (UFPR) e MBA em Marketing (IBMEC); Mestranda da FAE. rossanaflor@gmail.com.
[2] Exemplo: costurar as tirinhas de uma sandália. Milhares de tirinhas costuradas eram entregues semanalmente às fábricas, pelos “terceirizados”, geralmente donas-de-casa, com filhos pequenos, cujos maridos trabalhavam nas fábricas e que tinham esse trabalho como complementação de renda. Às vezes, a família toda se mobilizava para o atelier, seu único sustento.
[3] Lembro do termo “colaboradores” usado nas empresas. E o pior: o trabalhador acredita que a empresa assim o vê.
[4] Sempre entendi a expressão “agitador” como um “subversivo”.
[5] Lembrei novamente do filme do Chaplin.

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