terça-feira, 29 de junho de 2010

AULA 4 - TEORIA CRÍTICA DAS ORGANIZAÇÕES

Aula do dia 01/7/2010


Prof. José Henrique de Faria


PS: todas as dúvidas salientadas em amarelo, foram dirimidas pelo professor.
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FAE – CENTRO UNIVERSITÁRIO
PROGRAMA DE MESTRADO INTERDISCIPLINAR EM ORGANIZAÇÕES E DESENVOLVIMENTO – PMOD
DISCIPLINA: TEORIA CRÍTICA EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS – 4º. ENCONTRO
Por Rossana Cristine Floriano Jost
I.                    Foco do estudo
Capítulo 4 – ECONOMIA POLÍTICA DO PODER – VOL. 1, José Henrique de Faria, 2010, Editora Juruá.
II.                 Percepções da aluna
1 – CONCEITO
O capítulo reflete sobre o significado de “PODER”: as diversas conotações usadas no cotidiano; a confusão existente mediante a apropriação indevida do termo com outros conceitos, como: autoridade, coerção, liderança, etc.; bem como estrutura uma análise, a partir de enfoques multidisciplinares, quais sejam:
ENFOQUE SISTÊMICO-FUNCIONALISTA
Deutsch
Para Deutsch, o poder é a capacidade que possui o indivíduo (ou uma organização) de impor extrapolações ou projeções de sua estrutura interna em seu meio ambiente. Não é centro da política, mas componente e mecanismo importante que pode “segurar a onda” se o fim proposto não for realizado.
Análise Crítica à vazio existencial pelo excesso de conformismo.
Parsons
Para Parsons, poder é a capacidade de assegurar o cumprimento de obrigações impostas por unidades, em uma organização coletiva (metas), cujo mecanismo pode ser o intercâmbio baseado nos interesses gerais (sanções), quando o conjunto não percebe suas obrigações. Aparece sob as formas: persuação, ativação de compromissos, incentivo e coerção.
Análise Crítica à nem tudo é tão somente “moeda”. Há outros aspectos objetivos e subjetivos que devem ser considerados nas “ações de troca”, sobretudo o respeito às normas e valores das relações sociais, bem como regras de conduta.
ENFOQUE WEBERIANO
Weber
Possibilidade de impor a própria vontade, dentro de uma relação social, mesmo contra a resistência e qualquer que seja o fundamento desta possibilidade” p. 109. Penso que seja a única forma de poder que conheci, nesta vida: pessoas realizando a vontade de outras pessoas, coercivamente (a clássica expressão, com sorriso nos lábios: “faça isso, senão...”).
Análise Crítica à mesmo alimentando a teoria social, o enfoque “reduz as relações de poder a iniciativas individuais” e vale-se da maneira racional para atingir os objetivos, com os meios instrumentais. É a influência “à mão de ferro” da vontade de outrem, reprimindo todo e qualquer tipo de conflito.
Mills
Há um pressuposto da obediência ou do acatamento pela imposição ou interesse de cooperação. Mills coloca a questão da legitimação do poder nas instituições, sua continuidade e importância. Sobre onde o “poderoso” seja realmente “poderoso”...  Penso eu: em determinadas instituições, com pouco prestígio e baixa representatividade, isso poderia ser um “tiro pela culatra”, não?

ENFOQUE DO COMPORTAMENTO
Corrente Behaviorista
Vygotsky
Korda
A vida como um jogo de poder, objetivando descobrir o que se quer e conseguir, valendo-se da ânsia de poder das pessoas, que as mantém trabalhando (que terrível isso!). Poderia pensar que esse jogo poderia também representar o “dar a corda para alguém enforcar-se”? Aproveita-se o desejo do outro para apanhá-lo, extingui-lo...
Poder, como o desejo mais pessoal que um indivíduo possui, ligado à sobrevivência em um mundo difícil e exigente. Entra a figura do gerente (capataz) que conduz os subordinados (escravos), levando-os a produzir para a organização. Entendo que o desejo de poder do gerente pode representar algo muito mais perigoso do que se imagina, sobretudo se for pouco. Pouco poder “nas mãos” de mentes pequenas pode dar um tremendo estrago na empresa...
Dahal

A à B = B faz algo que jamais faria de outro modo. Na hierarquia: A à B, C, D, E, .... Todavia, B à A = Não é admitido. Poder,  como exercício unilateral, sem oposição ou resistências, sem interesses ou motivações subjetivas.
French & Raven
A[1]  O àP   =  Influência, poder cinético. Poder, influência potencial (máxima influência possível).
P pode se identificar com O ou opor-se a ele.
O à P, de modo que O mudou P = poder positivo
O ß P, de modo que P resistiu a O = poder negativo.
Quanto às bases que esses autores atribuíram ao poder:
Recompensa (lembrei do exemplo do burro andando com a cenoura amarrada à sua frente); Coerção (lembrei da obrigatoriedade do voto); Legitimidade (lembrei da família, obedecer aos pais, aos mais velhos, às autoridades, etc.); Referência (lembrei que pode ser uma situação possível na relação orientador/orientado); Especialização (lembrei da relação aprendiz e mestre).
Identificação + Influência = Mudança Psicológica.
Bachrach e Baratz
A participa dos processos decisórios que afetam B (muito usado pelo nível tático). E também a questão: “fazer as regras do jogo de forma que nos favoreçam...”. O duro é quando a vida muda as regras do jogo... e, então, B mobiliza-se contra as investidas de A. Estava aqui pensando com os meus botões: A, no auge de sua “autoridade”, poderia punir B?
Partindo da relação entre homem e natureza por meio do trabalho e da relação entre o uso de instrumentos e a linguagem, Vygostky afirma que a fala do indivíduo pode controlar o ambiente antes mesmo de seu comportamento, habilitando-o a buscar auxílio na solução de problemas, superar atitudes impulsivas, entre outros.
Aqui fiz uma analogia: as lideranças dos grupos sociais, bem como a construção de símbolos que direcionam politicamente as escolhas dos membros (e legitimadas), além dos discursos que contam a história de acordo com a preferência, poderiam ser ilustrados no quadro patético das propagandas “eleitoreiras”? Infelizmente elas estão bem próximas...
Essa possibilidade do indivíduo poder transformar-se a si mesmo, bem como o grupo a que pertence, através de sua fala (que pode ser totalmente desprovida da verdade), meio pelo qual usa no intuito de ter sua vontade assumida pelo grupo social, como se fosse a vontade coletiva, parece-me muito esclarecedor, sobretudo, para entender o comportamento dos indivíduos nos grupos, como consta na p. 117.
Então, vem-me à mente a imensa massa de manobra, aliciada por palavras, símbolos e comportamentos considerados “modelos”. Seria a falta de modelos “melhores”, ou a não percepção da “sedução politicamente correta”?

Análise Crítica (Comportamento Humano) à reduz a relação entre dois agentes desconsiderando os demais, bem como desconsidera a motivação do subordinado, tampouco sua resistência (se existir).
Análise Crítica à Pelo que entendi, este enfoque não considera opiniões contrárias (de sujeitos frutos de sua relação complexa com a sociedade). É isso?

ENFOQUE ORGANIZACIONAL (O poder, em sete visões)
Michels
Privilégio e deve ser mantido, a qualquer custo. Ligado à dominação (indivíduo e/ou grupo), provocado pela apatia das multidões que necessitam serem “guiadas”. Democracia “aparente”. Aqui passa-me a idéia da criança incapaz que “pede” para ser educada/orientada pelos pais.
March & Simon
Controle sobre as “variáveis de incerteza”, absorvendo as estruturas de influência na organização, através do conhecimento técnico. Neste caso, eu poderia citar como exemplo, pessoas ou grupos que detém a responsabilidade técnica de uma rede de computadores (software ou hardware)? Imagine os provedores do GOOGLE, ou software de administração do setor de TI (Tecnologia da Informação), de uma, digamos, Receita Federal? Ou mesmo um banco? Ou, ainda, organizações completamente reféns da tecnologia? Quem tem esse tipo de conhecimento “nas mãos”, teria esse tipo de poder?
Thompson
Monopolização de meios de satisfação das necessidades, criando uma relação de dependência entre a empresa e funcionários. Entendi que a empresa “seduz” seus funcionários, com mil benesses, criando a completa dependência dos mesmos. Mais ou menos: auxílio mestrado (ou universidade, etc.), carro disponível, auxílio moradia, plano de saúde padrão classe A, convênios mil com tudo o que há de melhor, e por aí vai....  Seria isso?
Análise Crítica à Essa dependência desconsidera a vontade do sujeito tampouco dá espaço para confrontos e resistência. Afinal, se a empresa satisfaz todas as necessidades, não há motivo para contestações. Puxa, o indivíduo foi transformado numa “tábua rasa”.... sem aderência.
Friedberg
Não há ação social sem um poder que supõe regulação de comportamentos, resultando em um jogo com regras definidas. Enfatiza a cooperação e as trocas desequilibradas, com objetivo comum.
Foucault
Prática social historicamente determinada e que aparece de diferentes formas. Três aspectos: suplício (da violência carnal à ocupação da consciência abstrata), punição (do castigo físico à instrução da alma no palco da justiça penal) e disciplina (fundada na relação obediência-utilidade, na coerção do corpo, na docilidade que aumenta a utilidade econômica e a obediência política).
Mills
Quantidade invariante em uma sociedade ou instituição. Para alguém ter poder, outro deve perdê-lo. Isso daria o direito da pessoa “fazer com que a outra perca esse poder”? Essa perda de poder poderia ser “fabricada”?
Análise Crítica à A perda de capacidade política de um grupo nem sempre resulta que outro possa tê-la ganho. Não existe “quantidade disponível de poder” a ser partilhado. Devo confessar que não entendi muito bem esse “soma-zero” .
Galbraith
O que acontece entre as fontes do poder (personalidade, propriedade, organização) e os instrumentos pelos quais é exercido (punição/recompensa – influência/persuasão).
Análise Crítica à O lado oculto da realização dos interesses.
ENFOQUE MARXISTA

Poder é um produto da necessidade histórica, intimamente ligado às relações de classe e seu exercício está vinculado à organização econômica da sociedade. Poder político é o poder organizado de uma classe para oprimir outra. A dominação das classes resulta dos modos de produção que se estabelecem sobre uma desigualdade econômica onde há a exploração entre os detentores dos “meios de produção” e da “força de trabalho”.
O poder econômico do capital transforma a atividade livre em um simples trabalho, pois é através do capital que o capitalista exerce sua dominação. O poder do capital é uma dominação que depende da forma específica de trabalho dentro de cada sociedade – estrutura econômica.
Estado influenciado por vários segmentos da classe dominante cujo lugar privilegiado possibilita definições de acordo com seus interesses (tão somente), mas em nome dos interesses sociais – estrutura política.
Nas palavras de Poulantzas, poder é “a capacidade de uma classe social de realizar seus objetivos específicos”.

Análise Crítica à Entendi que essa visão reduz tudo a “relações de classe” e que desconsidera os processos subjetivos, o ser humano “indivíduo”. Além disso, quem garante que, uma vez realizados os interesses das classes, isso seria solução?

ENFOQUE DA PSICOSSOCIOLOGIA

A psicossociologia relaciona o indivíduo/sujeito ao seu ambiente social (grupo, organização ou instituição). Nesta linha, Enriquez entende a Instituição como “lugar do poder”, histórica, que mobiliza as pulsões, regula a sociedade e socializa as pessoas para torná-las dóceis e submissas. O indivíduo consente as normas, pela interiorização dos valores, adesão às orientações, fascinação exercida pelos dominadores e pelo medo de sanções.
Lado violento e cruel do poder. Assim as relações de poder respaldam um conhecimento equivocado (de seus próprios detentores), provocado pela identificação psíquica, entre outros mecanismos.
Pagès e outros relacionam o poder com as organizações pelas mediações econômicas, autonomia controlada, produção ideológica e dominação psicológica dos trabalhadores (mediação das contradições). Este é o lugar de poder onde a prática política é exercida através da concepção, aplicação e controle.
Trocando em miúdos - I
Poder é uma capacidade e não um atributo.
Poder pertence a uma instância coletiva e não a uma pessoa (que pode até ter autoridade do cargo, influência, etc.).
Poder para ser efetivo tem que ser exercido.
Nem só as relações de dominação constituem o poder, mas os conflitos também.
Poder exercido através de determinados lugares, cuja ocupação é disputadíssima.

2 - RELAÇÕES DE PODER NAS ORGANIZAÇÕES
2.1 – Coerção, Coação e Repressão
Censura. Impedimento. Aplicação de sanções físicas (ou ameaças), psicológicas, sociais e culturais, de forma a castigar, restringir movimentos, reprimir a expressão de sentimentos, controlar a satisfação das necessidades básicas, provocar escassez de recursos, bloquear a obtenção de conhecimentos, induzir ao medo, impedir/punir manifestações espontâneas, cercear desempenhos, etc. Principal meio de coibição é a força, legitimada pelo Estado e pela organização. Vêm-me à mente a relação entre seqüestrador e seqüestrado (no cativeiro - fisicamente).
2.2 – Autoridade
Segundo o modelo de Weber, há 3 tipos de caráter de autoridade: racional (autoridade por legalidade), tradicional (autoridade legitimada pela tradição) e carismático (autoridade por modelo, exemplo), todos eles aceitos pelos que são, a eles, submetidos.
2.3 – Influência
Tipo de manifestação (simbólica e imaginária) que pressupõe uma ação em que uma pessoa exerce sobre outra, incutindo determinados valores, respeitados por quem sofre a influência. É uma condição de duplo sentido (por ex: ativa/passiva), cujos responsáveis podem não ter consciência de sua ação e se dá em função de agregação, relações sociais, posição na hierarquia, caracterizando-se pela reciprocidade.
2.4 – Liderança
Condição de um sujeito (individual ou coletivo) de conduzir, de forma determinante, as ações de outros sujeitos, mobilizá-los com convencimento, de maneira ativa e legítima, em manifestação de natureza psicológica, social e política, que ocorre em classes sociais, grupos, organizações, etc.
Trocando em miúdos - II
Poder fundamentado em uma interação complexa e contraditória entre os sujeitos coletivos da ação.
Poder como capacidade de um grupo social de definir e realizar seus interesses objetivos e subjetivos, mesmo contra qualquer tipo de resistência.
Relações de poder instituintes dos interesses objetivos e subjetivos do coletivo e não instituídas pelas crenças ou valores da sociedade.
Relações de poder como fenômenos concretos e que se manifestam de múltiplas formas.
Poder como capacidade coletiva que deve ser adquirida, desenvolvida e mantida.
Nem sempre as relações de poder são claras e diretas. É preciso, por vezes, encontrá-las na estrutura, no modelo de gestão, nas políticas e estratégias organizacionais.
Relações de poder dão suporte aos mecanismos e as formas de controle.



[1] Coloquei as chaves no sentido de dizer “no contexto de A”.

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