sábado, 3 de julho de 2010

AULA 6 - PROF. EDMILSON - RESENHA GOSWAMI (ABR/2010)

RECENSÃO CRÍTICA
Rossana Cristine Floriano Jost[1]
I.             Identificação da obra
Transcrição completa da entrevista pelo físico AMIT GOSWAMI ao programa “Roda Viva” da TV Cultura.
II.            Credenciais do autor
Amit Goswami nasceu na Índia e seu pai foi um guru brâmane. Físico e doutor em física nuclear pela Universidade de Calcutá, foi pesquisador e professor titular de física teórica da Universidade de Oregon (EUA), por 32 anos.
Após um período de crise na carreira, mudou seu foco de pesquisa para cosmologia quântica e aplicações da mecânica quântica ao problema da relação mente-corpo, onde aliou o conhecimento de tradições místicas com exploração científica, buscando unificar espiritualidade e física quântica.
Isso aconteceu, porque, quando começou a trabalhar com medições quânticas, Goswami tentou resolver tudo dentro do materialismo (foi materialista por 31 anos), muito embora já começasse a dar sinais de pensamentos sobre a natureza da consciência, além do materialismo. Desta forma, aproximou-se dos místicos, meditou, começando a entender as coisas a partir de um estado de consciência alterado. Ele aprendeu mais analisando ocorrências extraordinárias que as ordinárias.
Partindo de princípios da física quântica como o movimento descontínuo, a não-localidade e a causalidade descendente, Goswami amplia teoricamente essa visão a vários domínios da realidade.
Publicou os livros A Física da Alma, A Janela VisionáriaO Médico QuânticoO Universo Autoconsciente (aqui Goswami demonstra como a consciência cria o mundo material e que Deus será em breve, objeto da ciência e não mais da religião).
Aposentado da vida acadêmica desde 2003, dedica-se atualmente a palestras pelo mundo todo, inclusive no Brasil e Portugal, pela UNIPAZ. Ensina regularmente no Ernest Holmes Institute[2] em Houston (EUA), no Philosophical Research University[3] em Los Angeles (EUA), Pacifica[4] em Santa Barbara, Califórnia (EUA). É membro do Institute of Noetic[5] Sciences[6].
Místico com base técnica, participou do filme Quem somos nós? (What The Bleep Do We Know?), sucesso de bilheteria nos Estados Unidos.
III.           Quadro de referência do autor
Muitos são os citados em sua entrevista. Inicia falando sobre a disputa entre Einstein e Niels Böhr e a comprovação da existência de um fenômeno, somente mediante o registro do mesmo; cita Darwin e as lacunas de sua teoria da evolução; a consciência atuando objetivamente, ilustrada no trabalho de Sheldrake; Newton e sua objetividade, contrapondo-se a Willian Blake e sua forma intuitiva de entender o mundo; Jung e a psicologia transpessoal.
Igualmente cita Brian Josephson e a evolução das leis da física, bem como Nancy Cartwright e seu livro: Why do laws of Physics lie; Schrödinger e a descoberta da Mecânica Quântica, seguido por Silberman e o fenômeno do potencial de transferência.
Finaliza com Helmut Schmidt e a influência dos médiuns nos geradores de números aleatórios e Deepak Chopra e o efeito placebo.
IV.          Pressupostos e resumo da obra[7]
O teor da entrevista dá-se pelas afirmações de Amit Goswami a respeito de uma nova visão de mundo, mais espiritualista, menos materialista, divulgando seus valores espirituais e quânticos. Para ele, a função primordial da consciência é “escolher”.
O que para Descartes foi: PENSO, LOGO EXISTO, para a Física Quântica[8] é: ESCOLHO, LOGO EXISTO.
A aproximação entre ciência e espiritualidade foi a revolução que a FQ causou na física, especificamente com as questões: Movimento Descontínuo, Interconectividade Não-Local e Causalidade Descendente, inseridas nas visões de consciência, Deus e reencarnação relatadas a seguir.
Goswami inicia explicando que, para o materialismo, tudo se inicia nas partículas que criam os átomos, que criam as moléculas, que criam os neurônios, que criam o cérebro e que cria a consciência que, aqui, é considerada um objeto. A causalidade é ascendente.
Para a FQ, tudo se inicia na consciência em movimentos absolutamente descontínuos. A causalidade é descendente.
Os objetos são “ondas de possibilidades”, que podem estar em vários lugares ao mesmo tempo[9]. A forma como essas ondas se espalham é possível de ser prevista pela FQ, no entanto, como transformam a realidade concreta, não.
Os seres humanos vêem o resultado disso, ou seja, a realidade. A consciência faz o “colapso das possibilidades” para ser “algo” (salto quântico), ou seja, escolhe a realidade entre as possibilidades. Em outras palavras: a consciência (portanto, o observador) pode converter as ondas de possibilidades (objetos quânticos) em eventos reais, muito embora nenhum evento real pode ser previsto pela FQ[10] (princípio da incerteza).
Para o materialismo, a consciência depende do cérebro. Para a FQ, o cérebro depende da consciência. Sujeito e objeto estão numa mesma realidade.
Hoje existe um consenso de que nenhum fenômeno é, de fato, fenômeno se não for registrado na consciência de um observador. Essa é a base da nova ciência.
Entretanto a consciência individual do observador não causa o colapso num estado normal. É no estado anormal (consciência alterada), que passa a fazer parte da consciência cósmica e é, justamente, esta consciência cósmica que promove o colapso das ondas de possibilidades.
Há movimentos descontínuos no mundo os quais a matemática e a lógica não explicam. Todo salto quântico é descontínuo e isso vai continuar existindo, sem explicação matemática. Por isso, há espaço para o livre arbítrio, caso contrário, seria tudo muito determinista, contrariando o “princípio da incerteza” é fundamental na FQ
Para Goswami, está caindo a idéia falsa de que cientistas só trabalham com idéias racionais e matemática. Estamos começando a entender a natureza da criatividade. Eles também precisam da intuição, também dependem de visões criativas para desenvolver sua ciência. Einstein não descobriu a teoria da relatividade apenas com o pensamento racional.
E, ainda sugere que, em uma situação ambígua, devemos esperar pela intuição. Devemos perceber se há um salto quântico, se alguma resposta criativa surgirá.
O cérebro humano não é linear e processa de forma quântica as possibilidades, ao invés de trabalhar de maneira algorítmica Na criatividade, transformamos algumas fantasias em algo científico – fantasias criativas. Na nova ciência, por estarmos igualmente envolvidos com os mundos externo e interno e pelo fato de a subjetividade ter voltado à ciência.
Talvez devamos levar algumas de nossas fantasias a sério. O irreal e o real agora não estão completamente separados. São possibilidades da consciência.
Não somos seres condicionados. Há forças criativas dentro de nós. Basta aprender a agir a partir deste estado de consciência “não-ordinário”, e fazer as escolhas. “ESCOLHO, LOGO EXISTO”.
A realidade é muito mais que o espaço-tempo que o mundo em movimento faz parecer[11]. Este é o escopo fundamental para o ponto de encontro dos cientistas e dos espiritualistas.
Agora, uma compreensão de Deus: não se trata de um imperador ou um super humano. Isso tudo são estereótipos. A física clássica desconsiderava-o, de qualquer e em qualquer forma.  Para a FQ, Deus é a própria consciência cósmica.
Este tipo de Deus está retornando, pois sempre a disputa foi, de um lado, os teólogos afirmando que Deus podia intervir nos seres biológicos e, do outro, os cientistas afirmando que Deus não era necessário para a evolução natural. Porém, várias lacunas foram achadas na teoria de Darwin, chamadas “sinais de pontuação” que explicam como as espécies se adaptam a mudanças ambientais, entretanto não explicam como elas podem tornar-se outras.
Goswami conclui que não se pode explicar a teoria evolucionista apenas com a causalidade ascendente. Ele afirma: há uma intervenção da causalidade descendente; da consciência cósmica (que não é subjetiva); de Deus.
A própria dualidade: bem versus mal pode ser entendida como forças criativas versus forças do condicionamento.
Ele afirma que todas as nossas experiências aparecem após serem refletidas no espelho de nossa memória, muitas vezes. É essa memória que causa o condicionamento, ou seja, a propensão de agir ou responder a estímulos da forma como sempre fizemos. Somos seres condicionados e o condicionamento nos faz parecidos com máquinas. Ele é que nos faz esquecer a divindade que temos, a força criativa que realmente representa o que buscamos quando invocamos Deus.
Sobre reencarnação, a FQ dá uma resposta positiva. O corpo físico morre e o que resta? Se a consciência é a base do ser, então o que resta é a consciência. No modo quântico de ver as coisas, tudo são possibilidades e, algumas destas, podem morrer com o corpo físico, entretanto outras são perenes, formando uma confluência que pode viver mais tarde na vida de outra pessoa.
V.           Metodologia do autor
Experiências empíricas, meditação, sonhos e visões em estado alterado de consciência.
VI.          Conclusão do autor
Está acontecendo, em pleno “materialismo”, a transformação da ciência em si. Goswami  não tem dúvida de que, dentro desse contexto, o paradigma científico está se deslocando. Daqui a algumas décadas, o peso dos resultados das pesquisas científicas será tão decisivo que irá transformar de vez o antigo paradigma dualista: mente e corpo.
Será algo comparável à época em que se falava que a Terra, e não o Sol, era o centro do universo. Quando isso acontecer, deverá ser atingida a mente mais popular. Daí, então, a felicidade e a consciência irão receber mais atenção. Na verdade, os cientistas hoje buscam algo sem saber ao certo o que é. Mas quando isso acontecer, as pessoas procurarão em si mesmas a fonte dessa felicidade.
VII.        Quadro de referências do resenhista
Descartes, Popper, Kuhn, Sheldrake.
VIII.       Crítica e comentários do resenhista
Duas coisas me surpreendem nas palavras de Goswami: a primeira tem a ver com o “colapso das ondas de possibilidades” que, através de nossa consciência, em conjunto com o cosmos, somos capazes de trazer para nossa realidade; a segunda é o conceito de Deus, como a própria consciência cósmica, cuja existência pode encontrar-se em pistas reveladas pela ciência da física quântica.
Ao combater a perspectiva materialista da realidade (com experiência própria), oferece-nos uma outra dimensão de leitura da natureza da realidade, o que comunga com minha forma de pensar e de viver essa realidade.
No programa Roda Viva, Goswami foi questionado por pessoas que compactuavam e divergiam de suas idéias. Esses últimos solicitaram as sustentações de seu conceito de Física Quântica. Percebi algumas evasivas do cientista, bem como admitia a falta de suporte para alguns pontos serem considerados verdadeiros. Ele próprio ainda não possui essas respostas.
No entanto, a mim não colocou em dúvida a proposta maior. Quanto mais percorro esse caminho, mais percebo que “existem mais coisas entre o céu e a terra que nossa compreensão científica tradicional pode explicar”.
IX.          Indicações da obra
A todos que acreditam que a ciência não se fecha em seus limites e que há algo a mais para investigar: muitas perguntas para poucas respostas.


[1] Pedagoga com especialização em Psicologia do Trabalho (UFPR) e MBA em Marketing (IBMEC); Mestranda da FAE. rossanaflor@gmail.com.
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[2] Escola de Estudos da Consciência. Fonte: www.holmesinstitute.org/.
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[3] A Universidade de Pesquisas Filosóficas é uma organização sem fins com a finalidade de proporcionar educação relacionada ao estudo da consciência humana no contexto das disciplinas de filosofia, religião, psicologia e das ciências, oferecendo programas de Mestrado em Estudos da Consciência e da Psicologia Transformacional. Fonte: www.uprs.edu.
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[4] Instituto de Pós-graduação Pacifica credencia mestres, oferecendo programas de doutoramento enquadrados nas tradições da psicologia profunda. O Instituto estabeleceu um ambiente educacional que nutre respeito pela diversidade cultural e as diferenças individuais, e uma comunidade acadêmica que favoreça o espírito de investigação livre e aberta. Fonte: www.pacifica.edu/.
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[5] A noética (do grego nous: mente) é uma disciplina que estuda os fenômenos subjetivos da consciência, da mente, do espírito e da vida a partir do ponto de vista da ciência.Como conceito filosófico, em linhas gerais define a dimensão espiritual do homem. Fonte: Wikipédia.
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[6] O Instituto de Ciências Noéticas é uma organização sem fins lucrativos que desenvolve e patrocina pesquisas de ponta para as potencialidades e competências da consciência, incluindo as percepções, crenças, atenção, intenção e intuição. O Instituto mantém um compromisso com o rigor científico ao explorar fenômenos que têm sido amplamente ignorados pela ciência tradicional. Fonte: www.noetic.org/about.cfm.
[7] Algumas colocações foram aqui relacionadas, pela compreensão da resenhista em material complementar, a saber: entrevista de Goswami a Romeo Graciano (revista Planeta), disponível em: quesabemosnos.blogspot.com.
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[8] Doravante referenciada como FQ.
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[9] Uma partícula pode estar em diversos lugares ao mesmo tempo. (Goswami no filme= What do bleep do we know?)
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[10] Todas as coisas à nossa volta não são além do que possíveis movimento de consciência. (Goswami no filme= What do bleep do we know?)

[11] É apenas a experiência consciente que nos faz ter idéia de avançar no tempo. (Goswami no filme= What do bleep do we know?)

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