sábado, 3 de julho de 2010

AULA 6 - PROF. EDMILSON - RESENHA SHELDRAKE (ABR/2010)

RECENSÃO CRÍTICA
 Rossana Cristine Floriano Jost[1]
I.             Identificação da obra
SHELDRAKE, Rupert. Sete Experimentos que podem mudar o mundo. 9ª edição. São Paulo: Cultrix, 2003. 208 páginas.
II.            Credenciais do autor[2]
Rupert Sheldrake nasceu em 1942, é biólogo e autor de mais de 80 artigos científicos e 10 livros.
Ex-pesquisador titular da Royal Society[3], estudou ciência natural na Universidade de Cambridge, mais tarde PHD em Bioquímica, onde se tornou Diretor dos Deptos de Bioquímica e Biologia Celular.
Bolsista do Clare College, momento em que recebeu o Prêmio Universidade de Botânica. Estudou Filosofia e História da Ciência em Harvard.
Durante um ano estudou as plantas da floresta tropical, no Departamento de Botânica da Universidade de Malaya, Kuala Lumpur (Malásia). De 1974 a 1985 trabalhou na International Crops Research Institute for Semi-Arid Tropics (ICRISAT), em Hyderabad (Índia), onde foi fisiologista vegetal.  
Na Índia, também viveu por um ano e meio no ashram[4] do Padre Bede Griffiths, no estado de Tamil Nadu, onde escreveu seu primeiro livro: A Nova Ciência da Vida.
Atualmente é diretor do Perrott-Warrick Project em Cambridge (Inglaterra), que estuda as inexplicáveis habilidades humanas e animais; e também membro do Institute of Noetic[5] Sciences[6] na Califórnia (EUA). Professor visitante e Diretor Acadêmico do Programa de Pensamento Holístico do Instituto de Pós-Graduação Holístico em Connecticut (EUA). Vive em Londres com esposa e dois filhos.
III.           Quadro de referência do autor
São muitas as referências que Sheldrake utiliza nesta obra. Cita Descartes e sua filosofia mecanicista (dentro deste mesmo contexto, Guilherme de Occam); Karl Popper na contramão de Descartes; menciona as pesquisas sobre comportamento animal, de James Serpell, apontando também Charles Darwin, J.J.Murphy, S.Exner; os parapsicólogos “nada ortodoxos”, J.B.Rhine e J.G.Pratt, cujas teorias foram imediatamente refutadas por G.V.T.Matthews; segue com o sociobiólogo Edward O. Wilson e Michael Faraday que introduziu o termo “campo”, na ciência.
Menciona Einstein, obviamente, e sua teoria da relatividade, bem com Günther Becker e o conceito de “biocampo” (em conjunto com Eugène Marais); também dialoga com Piaget, citando seu estudo do desenvolvimento mental das crianças européias, seguido de Freud e Jung.
Aborda Renée Haynes, pesquisadora britânica de fenômenos psíquicos e Sirs Francis Bacon e Wallis Budge com suas reflexões científicas sobre a inveja e o “olho gordo”.
Apresenta as pesquisas do psicólogo científico Titchener e do seu seguidor Coover, sobre a sensação do indivíduo estar sendo observado. Também cita as experiências extracorpóreas de Robert Monroe e as reflexões sobre “descobertas científicas enganosas” e a “má-fé na comunicação científica”, de Peter Medawar.
Quanto às “ilusões científicas”, cita Stephen JayGould e sua denúncia sobre o preconceito científico e as questões de “fraude e auto-engano” no exemplo da polêmica envolvendo Robert Millikan e Félix Ehrenfeld, sem esquecer o próprio Sir Isaac Newton cujo trabalho apresentava resultados sempre exatos, não esquecendo as denúncias de Willian Broad e Nicholas Wade, neste mesmo contexto.
Aborda as “constantes fundamentais” e sua variabilidade, destacando Birge e os fundadores da ciência moderna: Copérnico, Galileu, Kepler, Descartes e Newton, bem como os físicos Henri Laplace, Heinz Pagels, Arthur Eddington, Paul Dirac e o filósofo Alfred Noth Whitehead.
Finalizando, Sheldrake apresenta fatos de experiências que ilustram as questões que evidenciam que as expectativas do experimentador podem afetar os resultados, citando Robert Rosenthal, Armand Trousseau, J.B.Rhine e o físico David Bohn.
IV.          Pressupostos e resumo da obra
O livro trata da proposição, pelo autor, de sete experimentos que podem mudar nossa visão de realidade, bem como revelar muito mais a respeito do mundo e do que a ciência é capaz de explicar.
Trata-se de um modo mais aberto de fazer ciência, menos conservador e limitado por paradigmas convencionais, os quais lidam com problemas básicos como tabus ou anomalias que simplesmente não “se enquadram”.
Sheldrake valoriza o folclore e as crenças populares, bem como acredita e respeita os poderes misteriosos dos animais. Por exemplo: seu senso de direção, quando migram ou quando regressam ao lar (pombos-correio), processo ainda não explicado pela ciência ortodoxa. Igualmente as conexões invisíveis entre animais de estimação e seus donos ou entre os cupins no interior de uma colônia.
O autor admite que isso pode constituir fenômenos sem nada em comum. Apesar de tudo, propõe a idéia da existência de um novo tipo de conexão, capaz de atuar à distância e que liga entre si as partes separadas de um sistema orgânico: os campos mórficos[7].
Outro ponto importante colocado por Sheldrake é uma nova compreensão entre relacionamento com nosso próprio corpo e o mundo que nos cerca, eliminando a separação convencional da dualidade “mente e corpo” ou “sujeito e objeto”, com implicações psicológicas, médicas, culturais e filosóficas. Assim, outras dimensões da consciência passam a ser objeto de experiência pessoal, como, por exemplo, a mente expandida para além do cérebro e suas atividades interpretativas.
Nesta mesma linha, o caso dos “membros fantasmas” os quais supõem que os campos morfogenéticos contém uma memória inerente, originada no passado da pessoa e uma memória coletiva de um número incalculável de pessoas que já tiveram esta vívida experiência.
É a “alma que permeia o corpo”. Isso significa que o corpo não-material constitui um aspecto da psique ou alma e, normalmente, anima o corpo físico. Os membros fantasmas são, pois aspectos da alma ou psique e possuem realidade psíquica e não material. Eles podem estender-se para além do corpo e projetar-se no coto[8].
Na parte III, Sheldrake apresenta sua crítica aos materialistas, racionalistas e todos os que “advogam o primado da ciência sobre a religião, a sabedoria tradicional e as artes” e a respectiva visão de objetividade, na “intrépida busca da verdade”. Reflete sobre a objetividade absoluta a qual afirma ser do conhecimento de todos, sua tendência em  exprimir mais um ideal que o reflexo da realidade.
Aponta as fraudes dos cientistas, seus auto-enganos, o crivo dos colegas e sua própria reprodução. Eles impedem que agentes externos regulem suas condutas. Orgulham-se de seus sistemas de controle.
O autor finaliza a obra com dois pontos não menos importantes que os demais: o primeiro trata da variabilidade das constantes fundamentais, sua flutuação e a refutabilidade da doutrina de uniformidade que não permite que os cientistas aceitem o inesperado ou propriamente as irregularidades da natureza; o segundo ponto aborda a preponderância das “expectativas dos experimentadores sobre seus próprios experimentos”, momento em que pode acontecer influências paranormais, ainda passíveis de estudo.
No geral, o livro aponta uma nova fase de evolução científica que permite investigações pioneiras realizadas por não-cientistas, utilizando tecnologia, bem como aborda a idéia de que os experimentos propostos no livro custam bem pouco; alguns, praticamente nada. No entanto, Sheldrake admite não poder prever os resultados dos experimentos nele relatados, mas tem convicção de que alguns deles revelarão dados muito interessantes. Ele acredita que a humanidade esteja nos “umbrais de uma nova era da ciência”, com novo vigor, maior flexibilidade na teoria e uma excitante perspectiva prática.
V.           Metodologia do autor
O autor, além de se valer de obras de inúmeros cientistas[9], pratica os experimentos que sugere, um a um, documentando-os passo a passo, bem como convida o leitor a fazê-lo, sobretudo mostrando preocupação com sua viabilidade econômica e social.
VI.          Conclusão do autor
O autor estuda, com naturalidade, os fenômenos rechaçados pela ortodoxia científica, recusando-se a permitir que o dogmatismo nela inerente desencoraje essa pesquisa.
Ele convida o leitor a acompanhá-lo em sua jornada de descobertas, tendo o cuidado de não oferecer um saber preconcebido ou respostas fáceis, mas o estímulo a explorar o desconhecido, muitas vezes tido como “tabu” para a comunidade científica convencional, criando uma “nova ciência”.
VII.        Quadro de referências do resenhista
Descartes, Popper, Kuhn, Goswami.

VIII.       Crítica e comentários do resenhista
Identifiquei-me sobremaneira com a leitura de Sheldrake, uma vez que compactuo com esse movimento no sentido de romper com a visão mecanicista e cartesiana do pensamento científico atual, sustentáculo desses discursos coloquiais.
Entendo, aceito e acredito na introdução da filosofia na ciência. Há de se buscar respostas para pontos nunca dantes refletidos e igualmente não explicados pela ciência tradicional. Esse pode ser um caminho.
Por exemplo: o autor busca esclarecimento para processos como o da interação entre consciências. O tema é sutil, sem dúvida, e talvez intangível para olhos tradicionais.
Ele comenta que a própria imagem da ciência é discutida poucas vezes de forma explícita pelos próprios cientistas, os quais postulam veladamente, a “defesa do método científico, como a única forma de testar experimentos não contaminados por suas próprias expectativas, estando totalmente envolvidos numa ambiciosa busca da verdade”. Verdades estas que, algumas vezes, não são exatamente suas.
Apesar disso, Sheldrake consegue perceber seriedade e comprometimento em determinados cientistas ortodoxos, no entanto rechaça os “servos dos interesses comerciais e militares”.
Entende que os cientistas também fazem parte de sistemas sociais e podem sofrer das mesmas mazelas (pressões, assédio, medo da demissão ou do descredenciamento, corte na verba de pesquisa, etc.) da humanidade como um todo.
Portanto, que saiam de seus pedestais e incorporarem-se ao mundo de todos, como cidadãos e, sobretudo, como receptores de um aprendizado que pode “mudar os próprios métodos educacionais levando a uma notável aceleração do seu próprio aprendizado”[10].
IX.          Indicações da obra
A todos que acreditam que a ciência não se fecha em seus limites e que há algo a mais para investigar: muitas perguntas para poucas respostas.


[1] Pedagoga com especialização em Psicologia do Trabalho (UFPR) e MBA em Marketing (IBMEC); Mestranda da FAE. rossanaflor@gmail.com.
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[2] Fonte: www.sheldrake.org/About/biography/
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[3] Royal Society é uma academia nacional de ciências do Reino Unido. Fonte: royalsociety.org.
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[4] Eremitério hindu onde os sábios viviam em paz e tranquilidade no meio da Natureza. Hoje, o termo ashram é normalmente usado para designar uma comunidade formada intencionalmente com o intuito de promover a evolução espiritual dos seus membros, frequentemente orientado por um místico ou líder religioso. Fonte: Wikipedia.
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[5] A noética (do grego nous: mente) é uma disciplina que estuda os fenômenos subjetivos da consciência, da mente, do espírito e da vida a partir do ponto de vista da ciência.Como conceito filosófico, em linhas gerais define a dimensão espiritual do homem. Fonte: Wikipédia.
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[6] Organização sem fins lucrativos que desenvolve e patrocina pesquisas de ponta para as potencialidades e competências da consciência, incluindo as percepções, crenças, atenção, intenção e intuição. O Instituto mantém um compromisso com o rigor científico ao explorar fenômenos que têm sido amplamente ignorados pela ciência tradicional. Fonte: www.noetic.org/about.cfm.
[7]  Também conhecidos como campos morfogenéticos, são estruturas que se estendem no espaço-tempo e moldam a forma e o comportamento de todos os sistemas do mundo material. Fonte: galileu.globo.com/edic/91/conhecimento1.htm.
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[8] Resto do braço que foi amputado perto do ombro. Fonte: www.priberam.pt/dlpo/Default.aspx.
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[9] Vide quadro de referências do autor, item III.

[10] Referindo-se a ressonância mórfica, nas palavras de José Tadeu Arantes, disponível em www.portalalpha.com.br/LivrePensar.asp?identificacao=53.

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