Aula do dia 01/7/2010
Prof. José Henrique de Faria
PS: todas as dúvidas salientadas em amarelo, foram dirimidas pelo professor.
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FAE – CENTRO UNIVERSITÁRIO
PROGRAMA DE MESTRADO INTERDISCIPLINAR EM ORGANIZAÇÕES E DESENVOLVIMENTO – PMOD
DISCIPLINA: TEORIA CRÍTICA EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS – 4º. ENCONTRO
DISCIPLINA: TEORIA CRÍTICA EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS – 4º. ENCONTRO
Por Rossana Cristine Floriano Jost
I. Foco do estudo
Capítulo 4 – ECONOMIA POLÍTICA DO PODER – VOL. 1, José Henrique de Faria, 2010, Editora Juruá.
II. Percepções da aluna
1 – CONCEITO
O capítulo reflete sobre o significado de “PODER”: as diversas conotações usadas no cotidiano; a confusão existente mediante a apropriação indevida do termo com outros conceitos, como: autoridade, coerção, liderança, etc.; bem como estrutura uma análise, a partir de enfoques multidisciplinares, quais sejam:
ENFOQUE SISTÊMICO-FUNCIONALISTA | |
Deutsch | Para Deutsch, o poder é a capacidade que possui o indivíduo (ou uma organização) de impor extrapolações ou projeções de sua estrutura interna em seu meio ambiente. Não é centro da política, mas componente e mecanismo importante que pode “segurar a onda” se o fim proposto não for realizado. |
Análise Crítica à vazio existencial pelo excesso de conformismo. | |
Parsons | Para Parsons, poder é a capacidade de assegurar o cumprimento de obrigações impostas por unidades, em uma organização coletiva (metas), cujo mecanismo pode ser o intercâmbio baseado nos interesses gerais (sanções), quando o conjunto não percebe suas obrigações. Aparece sob as formas: persuação, ativação de compromissos, incentivo e coerção. |
Análise Crítica à nem tudo é tão somente “moeda”. Há outros aspectos objetivos e subjetivos que devem ser considerados nas “ações de troca”, sobretudo o respeito às normas e valores das relações sociais, bem como regras de conduta. | |
ENFOQUE WEBERIANO | |
Weber | “Possibilidade de impor a própria vontade, dentro de uma relação social, mesmo contra a resistência e qualquer que seja o fundamento desta possibilidade” p. 109. Penso que seja a única forma de poder que conheci, nesta vida: pessoas realizando a vontade de outras pessoas, coercivamente (a clássica expressão, com sorriso nos lábios: “faça isso, senão...”). |
Análise Crítica à mesmo alimentando a teoria social, o enfoque “reduz as relações de poder a iniciativas individuais” e vale-se da maneira racional para atingir os objetivos, com os meios instrumentais. É a influência “à mão de ferro” da vontade de outrem, reprimindo todo e qualquer tipo de conflito. | |
Mills | Há um pressuposto da obediência ou do acatamento pela imposição ou interesse de cooperação. Mills coloca a questão da legitimação do poder nas instituições, sua continuidade e importância. Sobre onde o “poderoso” seja realmente “poderoso”... Penso eu: em determinadas instituições, com pouco prestígio e baixa representatividade, isso poderia ser um “tiro pela culatra”, não? |
ENFOQUE DO COMPORTAMENTO | ||||||||||||||
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ENFOQUE ORGANIZACIONAL (O poder, em sete visões) | |
Michels | Privilégio e deve ser mantido, a qualquer custo. Ligado à dominação (indivíduo e/ou grupo), provocado pela apatia das multidões que necessitam serem “guiadas”. Democracia “aparente”. Aqui passa-me a idéia da criança incapaz que “pede” para ser educada/orientada pelos pais. |
March & Simon | Controle sobre as “variáveis de incerteza”, absorvendo as estruturas de influência na organização, através do conhecimento técnico. Neste caso, eu poderia citar como exemplo, pessoas ou grupos que detém a responsabilidade técnica de uma rede de computadores (software ou hardware)? Imagine os provedores do GOOGLE, ou software de administração do setor de TI (Tecnologia da Informação), de uma, digamos, Receita Federal? Ou mesmo um banco? Ou, ainda, organizações completamente reféns da tecnologia? Quem tem esse tipo de conhecimento “nas mãos”, teria esse tipo de poder? |
Thompson | Monopolização de meios de satisfação das necessidades, criando uma relação de dependência entre a empresa e funcionários. Entendi que a empresa “seduz” seus funcionários, com mil benesses, criando a completa dependência dos mesmos. Mais ou menos: auxílio mestrado (ou universidade, etc.), carro disponível, auxílio moradia, plano de saúde padrão classe A, convênios mil com tudo o que há de melhor, e por aí vai.... Seria isso? |
Análise Crítica à Essa dependência desconsidera a vontade do sujeito tampouco dá espaço para confrontos e resistência. Afinal, se a empresa satisfaz todas as necessidades, não há motivo para contestações. Puxa, o indivíduo foi transformado numa “tábua rasa”.... sem aderência. | |
Friedberg | Não há ação social sem um poder que supõe regulação de comportamentos, resultando em um jogo com regras definidas. Enfatiza a cooperação e as trocas desequilibradas, com objetivo comum. |
Foucault | Prática social historicamente determinada e que aparece de diferentes formas. Três aspectos: suplício (da violência carnal à ocupação da consciência abstrata), punição (do castigo físico à instrução da alma no palco da justiça penal) e disciplina (fundada na relação obediência-utilidade, na coerção do corpo, na docilidade que aumenta a utilidade econômica e a obediência política). |
Mills | Quantidade invariante em uma sociedade ou instituição. Para alguém ter poder, outro deve perdê-lo. Isso daria o direito da pessoa “fazer com que a outra perca esse poder”? Essa perda de poder poderia ser “fabricada”? |
Análise Crítica à A perda de capacidade política de um grupo nem sempre resulta que outro possa tê-la ganho. Não existe “quantidade disponível de poder” a ser partilhado. Devo confessar que não entendi muito bem esse “soma-zero” . | |
Galbraith | O que acontece entre as fontes do poder (personalidade, propriedade, organização) e os instrumentos pelos quais é exercido (punição/recompensa – influência/persuasão). |
Análise Crítica à O lado oculto da realização dos interesses. |
ENFOQUE MARXISTA | |
Poder é um produto da necessidade histórica, intimamente ligado às relações de classe e seu exercício está vinculado à organização econômica da sociedade. Poder político é o poder organizado de uma classe para oprimir outra. A dominação das classes resulta dos modos de produção que se estabelecem sobre uma desigualdade econômica onde há a exploração entre os detentores dos “meios de produção” e da “força de trabalho”. O poder econômico do capital transforma a atividade livre em um simples trabalho, pois é através do capital que o capitalista exerce sua dominação. O poder do capital é uma dominação que depende da forma específica de trabalho dentro de cada sociedade – estrutura econômica. Estado influenciado por vários segmentos da classe dominante cujo lugar privilegiado possibilita definições de acordo com seus interesses (tão somente), mas em nome dos interesses sociais – estrutura política. Nas palavras de Poulantzas, poder é “a capacidade de uma classe social de realizar seus objetivos específicos”. | |
Análise Crítica à Entendi que essa visão reduz tudo a “relações de classe” e que desconsidera os processos subjetivos, o ser humano “indivíduo”. Além disso, quem garante que, uma vez realizados os interesses das classes, isso seria solução? |
ENFOQUE DA PSICOSSOCIOLOGIA | |
A psicossociologia relaciona o indivíduo/sujeito ao seu ambiente social (grupo, organização ou instituição). Nesta linha, Enriquez entende a Instituição como “lugar do poder”, histórica, que mobiliza as pulsões, regula a sociedade e socializa as pessoas para torná-las dóceis e submissas. O indivíduo consente as normas, pela interiorização dos valores, adesão às orientações, fascinação exercida pelos dominadores e pelo medo de sanções. Lado violento e cruel do poder. Assim as relações de poder respaldam um conhecimento equivocado (de seus próprios detentores), provocado pela identificação psíquica, entre outros mecanismos. Pagès e outros relacionam o poder com as organizações pelas mediações econômicas, autonomia controlada, produção ideológica e dominação psicológica dos trabalhadores (mediação das contradições). Este é o lugar de poder onde a prática política é exercida através da concepção, aplicação e controle. |
Trocando em miúdos - I
Poder é uma capacidade e não um atributo. |
Poder pertence a uma instância coletiva e não a uma pessoa (que pode até ter autoridade do cargo, influência, etc.). |
Poder para ser efetivo tem que ser exercido. |
Nem só as relações de dominação constituem o poder, mas os conflitos também. |
Poder exercido através de determinados lugares, cuja ocupação é disputadíssima. |
2 - RELAÇÕES DE PODER NAS ORGANIZAÇÕES
2.1 – Coerção, Coação e Repressão
Censura. Impedimento. Aplicação de sanções físicas (ou ameaças), psicológicas, sociais e culturais, de forma a castigar, restringir movimentos, reprimir a expressão de sentimentos, controlar a satisfação das necessidades básicas, provocar escassez de recursos, bloquear a obtenção de conhecimentos, induzir ao medo, impedir/punir manifestações espontâneas, cercear desempenhos, etc. Principal meio de coibição é a força, legitimada pelo Estado e pela organização. Vêm-me à mente a relação entre seqüestrador e seqüestrado (no cativeiro - fisicamente).
2.2 – Autoridade
Segundo o modelo de Weber, há 3 tipos de caráter de autoridade: racional (autoridade por legalidade), tradicional (autoridade legitimada pela tradição) e carismático (autoridade por modelo, exemplo), todos eles aceitos pelos que são, a eles, submetidos.
2.3 – Influência
Tipo de manifestação (simbólica e imaginária) que pressupõe uma ação em que uma pessoa exerce sobre outra, incutindo determinados valores, respeitados por quem sofre a influência. É uma condição de duplo sentido (por ex: ativa/passiva), cujos responsáveis podem não ter consciência de sua ação e se dá em função de agregação, relações sociais, posição na hierarquia, caracterizando-se pela reciprocidade.
2.4 – Liderança
Condição de um sujeito (individual ou coletivo) de conduzir, de forma determinante, as ações de outros sujeitos, mobilizá-los com convencimento, de maneira ativa e legítima, em manifestação de natureza psicológica, social e política, que ocorre em classes sociais, grupos, organizações, etc.
Trocando em miúdos - II
Poder fundamentado em uma interação complexa e contraditória entre os sujeitos coletivos da ação. |
Poder como capacidade de um grupo social de definir e realizar seus interesses objetivos e subjetivos, mesmo contra qualquer tipo de resistência. |
Relações de poder instituintes dos interesses objetivos e subjetivos do coletivo e não instituídas pelas crenças ou valores da sociedade. |
Relações de poder como fenômenos concretos e que se manifestam de múltiplas formas. |
Poder como capacidade coletiva que deve ser adquirida, desenvolvida e mantida. |
Nem sempre as relações de poder são claras e diretas. É preciso, por vezes, encontrá-las na estrutura, no modelo de gestão, nas políticas e estratégias organizacionais. |
Relações de poder dão suporte aos mecanismos e as formas de controle. |