terça-feira, 12 de outubro de 2010

AULA 5 - ORGANIZAÇÃO E COMPORTAMENTO

FAE – CENTRO UNIVERSITÁRIO
PROGRAMA DE MESTRADO INTERDISCIPLINAR EM
ORGANIZAÇÕES E DESENVOLVIMENTO – PMOD
DISCIPLINA: ORGANIZAÇÕES E COMPORTAMENTO – Profª. LIS SOBOLL (RESENHA 5º. ENCONTRO)
Por Rossana Cristine Floriano Jost[1]
I.                    Identificação das obras
1. DEJOURS, C. Addendum – da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. In: LANCMAN, S.; SZNELWAR, L. (organizadores). Christophe Dejours: Da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; Brasília: Paralelo 15, 2008a;
2. DEJOURS, C. Alienação e clínica do trabalho. In: LANCMAN, S.; SZNELWAR, L. (organizadores). Christophe Dejours: Da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; Brasília: Paralelo 15, 2008b;
3. MENDES, A. M. Psicodinâmica do Trabalho: teoria, método e pesquisas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2007 – Capítulo 1 – Da Psicodinâmica à Psicopatologia do Trabalho; Capítulo 2 – Novas Formas de Organização do Trabalho, Ação dos Trabalhadores e Patologias Sociais.
II.                 Obras complementares
1.  GAULEJAC, Vincent de. Gestão como doença social: ideologia, poder gerencialista e fragmentação social. São Paulo: Ed. Idéias e Letras, 2007;
2. HIRIGOYEN, M.F. I Seminário Internacional sobre Assédio Moral no Trabalho. São Paulo, abr. 2002a. Transcrição da participação da Dra. Marie France Hirigoyen. Disponível em: . Acesso em 12 outubro 2010;
3. __________, M.F. Mal-estar no trabalho: redefinindo o Assédio Moral. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002b;
4. LA BOÉTIE, E. de. Discurso sobre a servidão voluntária. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003;
5. MENDES, A. M. Trabalho e saúde: o sujeito entre emancipação e servidão. Curitiba: Juruá, 2008.
III.               Percepções da aluna
Com o intuito de nortear este estudo, tomarei como base o capítulo “Alienação e Clínica do Trabalho” (item dois da identificação das obras), no qual DEJOURS (2008b) discute a noção de alienação, a partir do olhar da psicodinâmica do trabalho, teoria a qual considera absolutamente situada entre a patologia e organização do trabalho.
O autor inicia a discussão abordando a questão do suicídio nos locais de trabalho, percebido como tal há cerca de 10 anos e que aponta para uma alienação levada ao extremo: a morte do sujeito. Cita o caso de uma senhora francesa de 43 anos, executiva de uma empresa de alta tecnologia, que se suicidou próximo ao seu local de trabalho. As injustiças por ela sofridas levaram-na a uma descompensação que a deixou psicologicamente vulnerável, fato até então, por ela combatido, em função de sua paixão pelo trabalho e sucesso profissional. Materialmente, ela tinha meios de fugir de tais injustiças (outras alternativas profissionais), entretanto, a ruptura do equilíbrio psíquico (obstinação como sintoma), a fez resistir em sua luta contra a injustiça. Essa senhora apresentou sinais de alienação mental, mas que também assumia uma dimensão moral e política: foi isolada pelos colegas, complacentes às injustiças da gestão. “A clínica do desemprego é a esse respeito incontestável. A cota de infortúnio só não abate aqueles que nunca investiram no trabalho ou na empresa, e aqueles que, cínicos, sempre se reservaram uma saída, estando prontos a trair os que neles depositaram confiança” (MENDES, 2008, p.37).
Conforme análise de SIGAUT (1990, citado por DEJOURS, 2008a, p.99), configura-se como alienação mental “se o indivíduo perde o contato com o real e com o reconhecimento pelo outro”, encontrando-se na solidão da loucura clássica. Suicídios como os do caso citado “indicam claramente uma desestruturação das relações sociais de trabalho” (MENDES, 2008, p.27). “(...) os suicídios nos locais de trabalho são reveladores de profunda degradação da vida em conjunto e da solidariedade, fato que não pode ser banalizado” (MENDES, 2008, p.28).
Essa senhora “não encontrou solidariedade nos colegas” (MENDES, 2008, p.37). Neste sentido, “o suicídio tem um significado em relação à alienação no sentido político, no mundo social e profissional contemporâneo”, conforme DEJOURS (2008b, p.222).
MENDES (2008) ainda ressalta que a empresa explora nossas vulnerabilidades, fato que por si só não necessariamente seja condenável, uma vez que, em alguns casos, também podemos ser beneficiários dessa situação. Entretanto, quando a relação de trabalho é desestabilizada por formas criticáveis de administração, há sérios riscos para a saúde mental e física da pessoa afetada.
DEJOURS (2008b) classificou algumas patologias que afetam, hoje, o mundo do trabalho, quais sejam:
a) Patologias de sobrecarga: na contramão de todo o progresso que a tecnologia nos oferece, a carga de trabalho aumentou e, com ela, o surgimento de muitas patologias, quais sejam: i. burn out – descreve um estado de exaustão prolongada e diminuição de interesse, especialmente em relação ao trabalho. O termo, originado do inglês "combustão completa", descreve principalmente a sensação de exaustão da pessoa acometida. O burn out atinge trabalhadores envolvidos com “relação de serviço” (área social, saúde, domicílio, servidores públicos, entre outros); ii. Karôshi – doença posta em evidência pelos japoneses há 15 anos, trata-se de uma morte súbita, causada geralmente por acidente vascular cerebral ou cardíaco, em indivíduos com menos de 40 anos e sem histórico de risco. Com jornadas de trabalho que ultrapassam 70 horas, a única causa a ser considerada é a sobrecarga; iii. distúrbios musculoesqueléticos (LER) – patologias do corpo, das extremidades exigindo cuidados importantes. Entretanto, o autor chama a atenção para o fato de que estas agressões têm início nas funções psíquicas, face às ocorrências, outrora mais comuns em trabalhadores de chão de fábrica, expostos a tarefas com forte pressão, vibrações ou repetitivas. Hoje, encontram-se também nos trabalhadores de escritórios e, particularmente, mais em mulheres que em homens.
b) Patologias do assédio: patologias em sensível ascensão tomam a forma de síndromes confusionais (distúrbios da memória, desorientação espaço-temporal e distúrbios de ordenamento das conexões do pensamento). Essas patologias podem revestir a forma de síndrome de perseguição e de distúrbios psicossomáticos. É importante salientar que o assédio moral no trabalho não é novidade, entretanto, o que há de novo são as patologias. Para o autor, o assédio invoca uma fragilização das pessoas em relação às suas manobras e que está vinculada à desestruturação do que se chama “recursos defensivos”, sobretudo em nível coletivo e de solidariedade. Patologias do assédio são “patologias da solidão”.
“O silêncio e o vazio vão pouco a pouco se fechando em torno da pessoa marcada. Quando os sistemas de solidariedade desaparecem, o que passa a reinar é o ‘cada um por si’" (HIRIGOYEN, 2002b, p.54).
DEJOURS (2008b, p.225) acredita que as patologias do assédio têm um denominador comum, que é “uma evolução dos métodos de organização do trabalho que corresponde também a um sensível progresso nos meios e métodos de dominação”. O autor entende que, juntamente a esse progresso da dominação, surgem novas formas de servidão.
Corroborando com Dejours, MENDES (2007) salienta a problemática da mobilização e do engajamento que a organização do trabalho exige do sujeito trabalhador, a ponto de serem explorados, como ferramentas úteis, em nome de uma ideologia produtivista, do desempenho da excelência, levando ao sofrimento, às falhas de mediações[2] e ao desenvolvimento de patologias sociais como a perversão, violência e servidão.
Portanto, as novas patologias relacionadas ao trabalho são uma conseqüência da evolução das modalidades de dominação, conforme DEJOURS (2008b), que questiona se as mesmas (entendidas como formas específicas de alienação mental, no sentido psiquiátrico) poderiam sinalizar novas formas de alienação (no sentido marxista) através do trabalho. No sentido positivo deste questionamento, ressalta que não houve apenas um progresso da dominação, mas um processo de desestruturação do “viver-junto”, e uma profunda degradação do mundo, enquanto espaço comum onde a pluralidade dos seres humanos é revelada: a patologia da solidão é enaltecida. Há desolação.
Como complemento à questão anterior, HIRIGOYEN (2002b) evidencia que a retórica empresarial, sobre a rentabilidade que tudo justifica, constitui um despotismo organizacional que constrange muito mais do que a autoridade direta. Segundo a mesma autora, os relacionamentos perdem as regras e todos os golpes passam a ser permitidos. O sistema torna-se então perverso por ele mesmo (...).
Com as defesas coletivas e a solidariedade recuadas, recua também o trabalhador que se envolve subjetivamente com suas responsabilidades, que tem experiência do real (resistência às determinações gerenciais), pois a experiência subjetiva também é a do fracasso, da incerteza, da impotência, da dúvida (DEJOURS, 2008b). A confiança desapareceu, neste mundo desolado. 
O autor, ainda, entende que não há como realizar o “retorno da experiência”, ou seja, dividir, além dos sucessos alcançados, as derrotas sofridas, sobretudo pela resistência às normas gerenciais, especialmente se socializar uma experiência que contraponha à qualidade total, as metas de resultados, rentabilidade, entre outros. Ele será julgado não como um sujeito formulador de uma experiência crítica de mundo, mas como um trabalhador incompetente, obtendo reprovação, censura e silêncio.  Se ele apresenta um vínculo autêntico com o real, ao duvidar, por exemplo, da eficiência de algum sistema, encontrar-se-á sozinho, desacreditado pelos demais, quiçá alvo de manobra de desestabilização estratégica – o assédio moral.
Sob o efeito do descrédito dos demais, ele passa a duvidar de si e corre o risco de entrar em depressão; ou continua defendendo sozinho seu posicionamento contra os demais, arriscando-se também a partir para uma paranóia (em função da nocividade da auto-referência). SIGAUT (1990, citado por DEJOURS, 2008a, p.227[3]) denomina essa situação de alienação social, que corresponde ao não-reconhecimento pelos demais (silêncio e obediência à dominação gerencial).
“Este trabalhador corre o risco de uma crise de identidade. Pode ainda entregar-se à loucura, que poderá ser confundida com uma espécie de alienação mental, quando vier a protestar ou a reclamar o que considera como direito – paranóia – ou acabar perdendo a confiança em si e a duvidar da realidade com a qual está confrontando, uma vez que ninguém a reconhece – depressão” (DEJOURS, 2008a, p.100).
O autor acredita que a alienação social desempenha um papel essencial no desenvolvimento do processo patogênico. O objetivo aqui é espalhar o medo. O assédio exerce um eficiente meio de intimidação, a ponto de fazer dos colegas, de forma insensível, cúmplices da desestabilização psicológica, fazendo com que neguem e traiam a si próprios. Portanto, a alienação social não diz respeito tão somente à vítima (o sujeito que passou a ser considerado como doido), mas a todo o coletivo. “E, no silêncio, é o viver-junto que se desagrega progressivamente” (DEJOURS, 2008b, p.228).
A alienação dos demais implica o aniquilamento dos vínculos que o coletivo funda a partir de seu conhecimento compartilhado sobre o real, obtido pela experiência comum do trabalho e deixa um vazio que é preenchido pelo medo e pela desconfiança. “A desolação é também uma regressão na ordem da vida” (DEJOURS, 2008b, p.228). Um deserto afetivo.
Segundo MENDES (2007), o trabalhador é enfraquecido pela precarização da organização do trabalho, pelo desemprego estrutural e pela necessidade de sobrevivência, sobretudo pela desestruturação do coletivo, alimentada por uma cultura da excelência, pregada por gestores que compartilham a flexibilidade da produção, em nome de promessas de sucesso e de reconhecimento, combinadas com vivências de solidão e desamparo. Assim, esse trabalhador é facilmente capturado pelo desejo da produção, utilizando estratégias de mediação de seu sofrimento em detrimento da mobilização para a mudança, favorecendo, desta forma, uma maior exploração do trabalho em prol da produção.
DEJOURS (2008b) salienta que o reconhecimento pelo outro não é isolado, mas trata-se da autenticidade da relação entre o ego e o real mediada pelo trabalho. Na clínica do trabalho, o reconhecimento diz sempre um “reconhecimento do real”. Além da alienação social, existe uma alienação coletiva que se instala quando ocorre uma ruptura coletiva do vínculo com o real, que SIGAUT (1990, citado por DEJOURS, 2008a, p.229) denominou alienação cultural.
O autor trouxe à tona, o exemplo das normas de qualidade total e da dissimulação a qual os trabalhadores são submetidos, a transgressão às prescrições, o “fosso” existente entre a organização do trabalho e a realidade do processo de trabalho, num teatro que corresponde à deformação glamourosa da realidade, no intuito de alcançar os objetivos de rentabilidade. Não há mais garantia que os relatórios de atividades correspondam à realidade do trabalho e da produção. “os dirigentes da empresa congratulam-se, felicitam-se mutuamente baseados em prescrições que perderam o vínculo com o real” (DEJOURS, 2008b, p.229).
E, quanto aos questionamentos, o desastre dos novos métodos da organização do trabalho não é pauta de discussão. Via de regra, “acha-se” um responsável que, segundo DEJOURS (2008b, p.230), “é levado às barras dos tribunais”. Há um custo psíquico considerável da alienação cultural, segundo o autor, ou seja, um desvio que passa pela distorção da realidade. No exemplo específico da ISO, basta observar a consolidação da mentira, na qual todos estão envolvidos sobre a qual se assenta à referida alienação.
Existem muitas descompensações patológicas vinculadas à obrigação de coadunar-se dessa dissimulação ou silenciar-se em testemunho a fraudes sobre a qualidade. Para DEJOURS (2008b), é o sofrimento ético que dá a luz ao conflito entre as convicções morais de uma pessoa e a obrigação de participar de atos que reprova. Fica um sentimento de traição a si mesmo. Essas descompensações resultam, o que é pior, na derrota subjetiva na luta contra a alienação.
As novas formas de dominação, para a clínica do trabalho, segundo o mesmo autor, enaltecem a avaliação individualizada dos desempenhos e seus ajustes com as normas da qualidade total, no que tece algumas considerações:
®      tecnologia facilitando a avaliação individualizada, pela possibilidade de rastreamento de cada operador;
®      autocontrole (controle interiorizado);
®      avaliação acoplada a metas (punição/recompensa) leva a uma concorrência generalizada (e desenfreada) entre os agentes com efeitos noviços devastadores;
®      a individualização e a política do “cada-um-por-si”, leva a condutas desleais entre colegas, gerando desconfiança;
®      fenômeno que ocorre tanto na base da pirâmide como nas altas esferas, sendo que esses últimos são forçados a vigiarem-se uns aos outros para não correrem o risco de perder “seu posto”, “seu lugar” e a parcela de poder a ele relacionada;
®      resultado final da avaliação é a devastação nos níveis de confiança, viver-junto, solidariedade;
®      isolamento e desconfiança = patologia da solidão;
®      instrumentos de sobrecarga de trabalho;
®      arbitrárias;
®      seguem-se às avaliações, sentimento de injustiça generalizado, descompensações, síndromes depressivas e de perseguição.
O autor constata que os programas de qualidade total, juntamente com a avaliação, podem ser identificados como fonte ou caso de agravamento das patologias mentais no trabalho.
“(...) a qualidade total é simplesmente uma impossibilidade” (DEJOURS 2008b, p.234).
“A adesão aos instrumentos de gestão é apenas fachada, sobretudo quando o sentido atribuído por cada empregado a seu trabalho não se encontra nos indicadores que ‘medem’ sua qualidade” (GAULEJAC, 2007, p.102).
Para o mesmo autor, as normas e os critérios que definem o programa de qualidade são a expressão da cultura gerencial, cuja principal característica é transformar o ser humano em recurso, em nome de uma racionalidade que apresenta como melhoria da qualidade, aquilo que é, tão somente uma otimização de resultados financeiros. O autor ainda ressalta que, num mesmo plano de processos, produtos, finanças, o programa reduz o humano a um “fator”, entre outros. Sua contribuição é medida em relação aquilo que ele traz para a empresa e não o contrário, bem como todos os termos utilizados, exprimem a necessidade de uma mobilização psíquica a serviço dos objetivos da empresa.
O que acontece na prática, para DEJOURS (2008b), é que existe uma imensa distância entre as prescrições e o trabalho efetivo concreto e jamais haverá produção perfeita. O autor assevera que a qualidade total não passa de uma quimera, que gera uma corrida às infrações, trapaças e fraudes, numa coação ao universo de trabalho. E as fraudes geradas pela qualidade total (elas são inevitáveis) têm um custo psíquico inestimável, sobretudo de ordem psicológica. A obrigação de mentir, trapacear, coloca muitos agentes em desalinho com seu próprio trabalho, com a ética profissional e até a pessoal. Esse sofrimento psíquico (sofrimento ético) é gerador de síndromes de desorientação, confusão, perda de confiança, entre outras, colocando em risco sua identidade e até a própria vida.
“Como as resistências não podem se exprimir sob a forma de críticas abertas, elas se exprimem de modo incongruente, como os mecanismos de defesa detectados pela psicanálise” (GAULEJAC, 2007, p.103).
Portanto, as causas de crescimento de patologias mentais no trabalho estão intimamente ligadas às causas organizacionais. DEJOURS (2008b) resgata a organização científica do trabalho substituída pela produção em série, linha de montagem e, hoje, pela associação de dois princípios: avaliação individualizada de desempenho e qualidade total que geram sobrecarga de trabalho e desenvolvem novas patologias. Isso tudo, evidentemente, desemboca em novos métodos de dominação que reduzem drasticamente a autonomia (individual e coletiva).
O autor relaciona ainda, três meios que completam o ciclo “avaliação individual e qualidade”, quais sejam:
·         coaching (treinamento) – além de romper com a solidariedade, a avaliação individualizada desestrutura a confiança e mina as bases de cooperação entre os colegas, atingindo também o alto escalão.  Para este último, é proposto uma ajuda individualizada no seu desempenho, no sentido de manter seu ânimo, ou seja, garantir a firmeza de seu “zelo dirigente” (DEJOURS, 2008b, p.236). Para a empresa, o coaching é necessário para contrabalançar os efeitos nocivos da avaliação individualizada do rendimento que desestrutura a cooperação;
·         gestão do estresse – propõe-se a corrigir os efeitos perversos da organização do trabalho (sobrecarga, excesso de responsabilidade, esgotamento, degradações da atividade, entre outros);
·         estresse profissionalfraseologia do estresse é um dos meios de dominação no trabalho. É uma forma de canalizar o pensamento crítico apenas para assuntos externos a si, produzindo o consentimento e a não reflexão sobre a humanidade dos agentes. Desta forma, não voltam seu olhar para os princípios que regem a organização do trabalho. Assimilando a fraseologia do estresse, renunciam a pensar sobre si mesmos como sujeitos, permitindo a ocupação do espaço invocado pelas estratégias de defesa a atuar contra o pensamento. O homem acaba negando-se a si próprio.
Conforme MENDES (2007), se, por um lado as defesas permitem a convivência com o sofrimento, por outro podem levar a alienação das suas verdadeiras causas, a serviço da ideologia dominante, visto que não tem interesse nas mudanças das relações de trabalho. Ela explora e usa o paradoxo próprio das defesas para evitar discussões sobre a organização do trabalho e manter os trabalhadores produtivos.
Desestruturando as solidariedades, DEJOURS (2008b) remete sua reflexão à centralidade do trabalho, pois os métodos de dominação têm capacidade de desestruturar fortemente o poder da crítica social e, consequentemente, da luta contra essa dominação em todos o setores da sociedade. Os novos métodos vitoriosos de dominação não são os únicos responsáveis pela “implacável lógica do sistema econômico”. Existe o engajamento dos trabalhadores (de corpo e alma) para sua implantação, em participação totalmente ativa. Os trabalhadores aceitam a servidão, zelosos, pois bem sabem que se observarem estritamente as prescrições  (greve de zelo, operação padrão) empresa nenhuma funcionará. “A execução à risca das prescrições, pode levar à morosidade do trabalho e ao não cumprimento das metas” (MENDES, 2007, p.37).
“(...) ao homem, todas as coisas parecem naturais, nas quais é criado e nas quais se habitua, mas isso só o torna ingênuo, naquilo que a natureza simples e inalterada o chama; assim a primeira razão da servidão voluntária é o costume” (LA BOÉTIE, 2003, p.37).
Por essa razão, DEJOURS (2008b) afirma que existe a possibilidade de zelo, consentimento e submissão da maioria dos trabalhadores. Quaisquer métodos postos em execução, para o autor, são infundados e injustos. Nesse mesmo sentido, segundo MENDES (2007), as dificuldades dos que fazem a organização do trabalho geram maior sofrimento nos trabalhadores, por não permitir maior margem de liberdade de modo que os mesmos utilizem sua inteligência prática, sua inventividade, um dos caminhos para a transformação do sofrimento.
A psicodinâmica do trabalho, para DEJOURS (2008b), é a própria organização do trabalho que constitui elemento essencial de inovação, experimentação, transformação e dominação, por conta de um mundo desconstruído. Sempre haverá a vontade de dividir os homens e de controlar toda a iniciativa de auto-organização, concorrente do trabalho prescrito.
A alienação, desta forma, caracteriza-se como a extinção dos sinais de  resistência a um processo que se opõe à essência genérica do homem (aquilo que proporciona ao ser humano sua vocação de realizar-se mediante sua ação e obra em favor de seu crescimento. O poder e o querer trabalhar estão inclusos num trabalho vivo, segundo Marx), compreendida não de forma materializada em condutas individuais, mas um conceito com relativo grau de abstração. DEJOURS (2008b) aponta como sequência ao conceito Marxista de trabalho vivo, a idéia de realização da essência do homem, enquanto ser cultural, que honra a vida. Desta forma, o trabalho é fundamentalmente vivo, individual e subjetivo. A alienação, nestes termos, desonra a vida, esquece a dimensão axiológica do trabalho “vivo”, transformando-o em um “trabalho morto”.
O autor ainda salienta que a dominação não é a causa da alienação, pois todo trabalho vivo existe, diante da dominação e o homem pode transferi-la e emancipar-se, desta forma produzindo a liberdade. Entretanto, a desolação abre o caminho das novas formas de patologia mental no trabalho e o que é pior: a sociedade não apresenta uma concepção clara do que seja alienação.
“As novas formas de sofrimento e de patologia no mundo do trabalho testemunham o fracasso do pensamento diante das profecias contemporâneas que afirmam, de um lado, que tudo, neste mundo, é mensurável e deve ser mensurado, anunciando triunfalmente, de outro, que o trabalho é um valor em fase de extinção” (DEJOURS, 2008b, p.244).
Por fim, MENDES (2007) ressalta que desvelar o sofrimento pela fala permite resgatar a capacidade de pensar sobre o trabalho e pode ser um modo de desalienação, bem como uma possibilidade de apropriação e dominação do trabalho pelos trabalhadores, sendo esse um aspecto fundamental para o início da construção do coletivo com base na cooperação e nas mudanças da organização do trabalho.


[1] Pedagoga com especialização em Psicologia do Trabalho (UFPR) e MBA em Marketing (IBMEC); Mestranda da FAE. rossanaflor@gmail.com.
[2] O que seriam estas mediações? Não entendi muito bem.
[3] Neste caso, é permitido usar o “apud”? E se não usei parênteses na citação de SIGAUT, colocando com minhas próprias palavras, é errado, ainda assim, colocar a página?

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