sábado, 27 de novembro de 2010

I Jornada Internacional de Práticas Clínicas no Campo Social (Maringá) - I

É novembro de 2010, dia 03.
Manhã quente e grande é nossa curiosidade em conhecê-lo.



Monsieur Vincent de Gaulejac

Na França, os políticos se ocupam da questão do emprego e não do trabalho. Diferente do Brasil? Deve ser mal da classe... alienada, interesseira e oportunista. Não dá tempo de pensar no "público". Gaulejac falou das diferentes percepções de sujeito.
    PRIMEIRO PONTO SOBRE AS PERCEPÇÕES DE SUJEITO:
      • Sujeito (quem sou eu?) - penso, logo existo. Sujeito do inconsciente: cidadão que contribui para a construção da sociedade.
      • É preciso refletir junto, sobre o processo SUJEITO NO TRABALHO e o TRABALHO DO SUJEITO.
      • Podemos mudar a maneira como a história acontece (não a história).
      • O que é ser sujeito? "É agir de acordo com o dever que me impõe. Poder fazer minhas próprias escolhas. É ser mestre do que posso dar aos outros. É me conhecer e me aceitar como sou".
      • Gaulejac contou a história de Mireille, uma senhora (guria) que decidiu ser sujeito aos 40 anos: "ser sujeito é ser inteiramente eu mesma, ser senhora do que eu posso fazer aos outros. Chorei durante 40 anos. Agora acabou. Eu quis ser sujeito". Bem, ela começou com 10 anos de vantagem sobre mim.
      • Ser sujeito é ter coragem para se voltar contra o "super ego", é partilhar junto, é fazer "do meu jeito", é exercer "como eu me sinto". 
      • No mundo do trabalho, há uma dissociação entre o que penso, digo, falo e provo. Aqui, o sujeito não suporta o acordo que se impõe: acordos de excelência, de produtividade (às custas de sua alma). Ele confronta-se com qualquer tipo de contradição entre o que pensa e o que sente. São contradições com sua consciência. Isso pode desembocar em úlceras, depressões. É o verdadeiro motivo do "mal", que deveria ser tratado, e não tão somente seus sintomas.
      • Ser sujeito é sentir o gosto do prazer da autonomia, é lutar para ser independente.
      • A construção do sujeito é a mais bela aventura existencial.
      • Todos nós temos o "hábito" de "não ser sujeito". Gaulejac indaga: porque as pessoas não se revoltam? "A resignação vale mais que a esperança frustrada".
      • DETERMINISMO x LIBERDADE, eis a questão.
      • Na forma da empresa (produtividade e lucro), o "eu" de cada indivíduo tornou-se o seu próprio fardo. Ser "excelente", viver buscando a "excelência" é muito desgastante. Quem não é "excelente" é excluído. "Ganhando se produz mais perdedores que vencedores".

        SEGUNDO PONTO SOBRE AS PERCEPÇÕES DE SUJEITO:
          • Como definir o trabalho? SOFRIMENTO e DOR. Atividade penosa com a qual se ganha o pão com o suor do rosto.
          • "Sou eu quem possui o trabalho ou ele que me possui?". Antigamente o trabalho era motivo de vergonha, atribuído somente aos menos afortunados, como os escravos e as mulheres (vejam só...).
          • Hoje, o trabalho determina a existência social de uma pessoa, fator de realização do homem que, através do trabalho se reconhece em si mesmo. Além do aspecto da sobrevivência (lógica da necessidade), o trabalho também configura a identidade do indivíduo. Via de regra, é a primeira coisa que se quer saber... (o que vc faz?).
          • O trabalho é elemento importante de mediação do homem com o mundo. Hoje, a questão do "fazer" mudou. A visibilidade do trabalho está cada vez mais evidente. Como explicar isso? Difícil dizer... O que é essa produtividade? Não sabemos o que estamos medindo. A atividade concreta é mais difícil de perceber.
          • Entra em cena as relações, a network, os conhecidos: o emprego é o vetor destes capitais. Quando se perde o emprego, perde-se o reconhecimento simbólico atrelado a ele. O trabalho é um sinal de pertencimento.
          • Assim sendo, o "EU" tornou-se um capital que é preciso incorporar à organização. A energia libidinal do indivíduo é canalizada para a empresa, através de "psicologias" que adaptam o indivíduo ao objetivo empresarial. Há risco de clivagem.
          • Psicodinâmica do Trabalho - o prazer é fácil de administrar, mas o sofrimento, é mais difícil.
          • Perda de emprego = perda de si.
          • O trabalho é meio ou finalidade da existência? Transforme o "ou" em "e". O trabalho é meio e finalidade da existência.
          • O lado positivo do trabalho é que é essencial da construção de si. O lado negativo é que o trabalho também é lugar de alienação, opressão, ambos elementos objetivos do mal-estar.

          QUESTÕES LEVANTADAS PELA PROFA. ANA MAGNÓLIA
          1. Sentido do trabalho; 
          2. Contradições impostas ao sujeito; 
          3. Formação dos profissionais de RH.
          • O sujeito é da contradição, do conflito, do prazer e da autonomia.
          • Que sujeito as organizações estão formando? Aquele que sofre diante do fracasso ou aquele que usa estratégias para ressignificar seu sofrimento?

          REFLEXÕES DO PROF. VINCENT DE GAULEJAC
          • Sobre a dinâmica dos pesquisadores. Publicação + pontos = avaliação dos pesquisadores. Essa avaliação faz parte de um sistema de poder que mata a pesquisa.
          • Falou das publicações indiretas. Orientadores, doutores que publicam junto. Na verdade colocam seu nome, sem ter escrito uma linha.
          • A questão da "excelência" é uma questão capitalista --> ideologia do sucesso.
          • Resgatou a história de Mireille. Como descentralizá-la? Sujeito com vontade de ser. Mas no mundo gerencialista, depende do suporte (R$). Qual objetivo? Trabalhar, estudar, produzir, etc... Neste mesmo mundo, a posição social é determinante na formação dos hábitos.
          • Mireille quis ser sujeito, independente de sua posição social inicial. Ela era uma pessoa alienada, com filhos, casa, marido, etc. Aos 40 anos quis ser sujeito, que escolhe existir, que tem projeto de existência. De onde vem esse desejo de ser? Será que alguma religião daria isso?
          • Alienação radical - expressa por um sujeito moldado ao coletivo que renuncia a ser sujeito, voltado à massa social.
          • Ressalta a existência e a importância do coletivo. As pessoas reconhecem a mobilização coletiva.
          • Também salienta as questões identitárias: a migração laboral é uma opção? Ou uma produção da sociedade? O sujeito não se realiza somente com posição social.

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